CONTEÚDO | . |
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Os homens passavamos dias e as noites dentro das fábricas só saindo aos Domingos, para esquecer o cárcere. Já não via mas ovelhas, nem ouviam o melancólico tanger dos seu chocalhos nos pendores da serra, ao crepúsculo; viam apenas a sua lã, lã que eles desensugavam, que eles lavavam, cardavam, penteavam, fiavam e teciam, lã porto da a parte.» Um jovem pastor sonha tornar-se operário fabril para melhorar as suas condições sociais. É neste ambiente de pobreza e vida hostil que se desenvolve a acção de A Lã e a Neve. Como em toda a obra de Ferreira de Castro, sobressai neste romance o sentido social e as preocupações pelas miseráveis condições devida dos mais humildes. Um dos melhores romances de Ferreira de Castro.
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A Lã e a Neve
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A Lã e a Neve é um romance de Ferreira de Castro.
Publicado pela primeira vez em 1947, A Lã e a Neve conta a vivência dos portuguese que habitam as regiões frias de Serra da Estrela em plena 2ª Guerra Mundial. Um jovem pastor, Horácio, namora Idalina e sonha ser tecelão, ter uma casa confortável e progredir na sua carreira. Ao conseguir emprego na fábrica de tecelagem, casa-se e ascende a "operário", mas vê-se obrigado a viver num casebre.[1]. Em meio às notícias acerca da conflagração mundial, alguns operários, especialmente Marreta, nutrem esperanças de um mundo melhor para os deserdados da fortuna. Com o término da guerra, a morte de Marreta, a continuação de tudo e a resignação de Horácio, finda o romance.[1]
Referências
- ↑ a b Moiséis, Massaud. A Língua Portuguesa através dos textos ,São Paulo, Editora Cultrix, 1ª Edição- 1968, pág.444
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Esta página foi modificada pela última vez às 14h15min de 7 de novembro de 2010
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A Lã e a Neve
Romance de Ferreira de Castro publicado em 1947. Retrata a dura realidade da vida do povo, através do relato da vida de Horácio. No sonho de construir uma casinha decente, esta personagem abandona a pastorícia da Serra da Estrela, onde lutava contra as tempestades, e vai para a fábrica da Covilhã, onde tem de lutar contra a prepotência dos capitalistas.
Como referenciar este artigo:
A Lã e a Neve. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-02-11].
Disponível na www:
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Monday, November 22, 2010
de passagem - A LÃ E A NEVE (1947)
[do «Pórtico»]
Um dia, tudo se revolucionou. Já não se tratava de melhores debuxos, de mais gratas cores, mas de coisa mais profunda -- da produção automática. Lá nas nevoentas terras inglesas o padre Cartwright inventara o tear mecânico. A água fazendo girar grandes rodas, começara a produzir o movimento dado, até aí, pelos pés do homem. Mas continuam a ser precisos os homens junto das novas máquinas.
Um dia, tudo se revolucionou. Já não se tratava de melhores debuxos, de mais gratas cores, mas de coisa mais profunda -- da produção automática. Lá nas nevoentas terras inglesas o padre Cartwright inventara o tear mecânico. A água fazendo girar grandes rodas, começara a produzir o movimento dado, até aí, pelos pés do homem. Mas continuam a ser precisos os homens junto das novas máquinas.
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Os serranos que, nas solidões da Estrela, ora pastoreavam as suas ovelhas, ora teciam a lã que elas forneciam, tornaram-se cada vez mais raros. A maioria entrar nas fábricas. Eles tinham de regrar, agora, a sua vida por um salário fixo, chegasse ou não chegasse para as exigências de cada dia. Isso, porém, carecia de importância; ninguém pensava em aumentar-lhes os ganhos, pois havia de se ter sempre em conta o preço da mão-de-obra para a concorrência dos tecidos nos mercados.
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Os homens passavam os dias e as noites dentro das fábricas só saindo aos domingos, para esquecer o cárcere. Já não viam as ovelhas, nem ouviam os melancólicos tanger dos seus chocalhos nos pendores da serra, ao crepúsculo; viam apenas a sua lã, lã que eles desensugavam, cardavam, penteavam, fiavam e teciam, lã por toda a parte.
Ferreira de Castro, A Lã e a Neve, 15.ª edição, Lisboa, Guimarães Editores, 1990.
Ferreira de Castro, A Lã e a Neve, 15.ª edição, Lisboa, Guimarães Editores, 1990.
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Monday, April 23, 2007
«Bibliofilia e livros russos»: a propósito de «A Lã e a Neve»
Gostaria de fazer um link directo para o post de José Pacheco Pereira do dia 14 no Abrupto
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mas a minha azelhice não o permite. Nele surgem alguns livros que a família de Francisco Ferreira -- o Chico da CUF, autor do crítico 26 Anos na União Soviética --, antigo operário e dissidente do PCP lhe ofereceu, entre os quais a tradução russa de A Lã e a Neve, por A. Torres e A. Ferreira, editada em Moscovo, em 1959.
A Lã e a Neve é, depois de A Selva, o mais traduzido romance do autor. Esta vem na sequência de outras publicadas também no Bloco de Leste, como as duas nas línguas da Checoslováquia e na Hungria, aqui com vária edições. Mas surge também após a edição no Brasil, na Editorial Vitória, editora do PCB, na colecção «Romances do Povo», dirigida por Jorge Amado.
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Amigos muito chegados desde a primeira metade da década de 30, cuja amizade assistiu a curiosos episódios durante o Estado Novo, estando o autor de Jubiabá proibido de entrar em Portugal durante longos anos, não importou muito ao brasileiro que A Lã e a Neve pouco tivesse que ver com os cânones do realismo socialista -- ou neo realismo, entre nós --, dado o posicionamento anarquista que sempre foi o do escritor português. Este era o romance de Ferreira de Castro preferido por Jorge Amado (1) e o seu objectivo, conforme contou na longa entrevista a Alice Raillard, era o de «dar uma visão da literatura dos países socialistas, da literatura progressista, mas não obrigatoriamente a do Partido.» (2)
A Lã e a Neve é, depois de A Selva, o mais traduzido romance do autor. Esta vem na sequência de outras publicadas também no Bloco de Leste, como as duas nas línguas da Checoslováquia e na Hungria, aqui com vária edições. Mas surge também após a edição no Brasil, na Editorial Vitória, editora do PCB, na colecção «Romances do Povo», dirigida por Jorge Amado.
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Amigos muito chegados desde a primeira metade da década de 30, cuja amizade assistiu a curiosos episódios durante o Estado Novo, estando o autor de Jubiabá proibido de entrar em Portugal durante longos anos, não importou muito ao brasileiro que A Lã e a Neve pouco tivesse que ver com os cânones do realismo socialista -- ou neo realismo, entre nós --, dado o posicionamento anarquista que sempre foi o do escritor português. Este era o romance de Ferreira de Castro preferido por Jorge Amado (1) e o seu objectivo, conforme contou na longa entrevista a Alice Raillard, era o de «dar uma visão da literatura dos países socialistas, da literatura progressista, mas não obrigatoriamente a do Partido.» (2)
A Lã e a Neve, ao relatar a proletarização nas fábricas têxteis da Covilhã de Horácio, um pastor da serra da Estrela que pretendeu melhorar a vida, após ter tomado contacto com outras realidades durante o serviço militar, entusiasmou muitos dos neo-realistas. Era aliás citado por Álvaro Cunhal, no célebre artigo «Cinco notas sobre forma e conteúdo» (1955), dando-o como exemplo literário de «arte ascendente», ao lado de Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes e de Fanga, de Alves Redol. (3) Exemplo, aliás, repetido no seu ultimo ensaio, A Arte, o Artista e a Sociedade (4).
Apenas, que eu saiba, Mário Dionísio viu, logo em 1947, numa extensa recensão na Vértice, que nem Castro nem A Lã e a Neve em particular podiam ser considerados «neo-realistas», pelo menos de um ponto de vista ortodoxo. Isto é, se a superação da realidade existente fosse advogada de outro modo que não o da luta organizada do proletariado enquadrada no Partido que se reivindicava como sendo o seu, não podia uma obra, de acordo com o futuro poeta de Terceira Idade, ser qualificada como tal. (5)
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Esta questão, sobre se ao neo-realismo subjaz uma linha "oficial" e uma dogmática, não era consensual, e ainda hoje o não é. Há quem considere, como Urbano Tavares Rodrigues, que outras visões de transformação do real e da luta de classes podem coexistir dentro do que se convencionou designar por «neo-realismo». (6)
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Ferreira de Castro sempre fora um público e notório autor libertário, um comunista libertário de inspiração kroptkiniana. A Lã e a Neve, que tem como grande figura moral a personagem central do velho anarquista Marreta, esperantista e vegetariano, que apresenta o patrão, contra quem os operários fazem greve, como uma figura inevitavelmente revestida de humanidade e não como um simples arquétipo negativo e que finalmente aponta a concretização de uma sociedade nova para uma etapa posterior da vida colectiva, pouco definida, mas conquistada não só pela luta de classes -- que sempre esteve presente nos romances de Castro --, como pela alteração das mentalidades e da própria ontologia do ser humano, eram naturalmente ideias passíveis de conflituar com as que defendiam a conquista do poder pela vanguarda da classe operária organizada em partido.
Ferreira de Castro sempre fora um público e notório autor libertário, um comunista libertário de inspiração kroptkiniana. A Lã e a Neve, que tem como grande figura moral a personagem central do velho anarquista Marreta, esperantista e vegetariano, que apresenta o patrão, contra quem os operários fazem greve, como uma figura inevitavelmente revestida de humanidade e não como um simples arquétipo negativo e que finalmente aponta a concretização de uma sociedade nova para uma etapa posterior da vida colectiva, pouco definida, mas conquistada não só pela luta de classes -- que sempre esteve presente nos romances de Castro --, como pela alteração das mentalidades e da própria ontologia do ser humano, eram naturalmente ideias passíveis de conflituar com as que defendiam a conquista do poder pela vanguarda da classe operária organizada em partido.
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Nada enfim que levantasse obstáculos ao seu velho amigo Amado, para quem, no fim da década, Castro faria o prefácio da primeira edição portuguesa de Gabriela, Cravo e Canela...
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(1) In Quirino TEIXEIRA, Na Bahia com Jorge Amado, Lisboa, Centro Nacional de Estudos e Planeamento, 1985, p. 59.
(2) Jorge AMADO, Conversas com Alice Raillard, tradução de annie Dymetmann, Porto, Edições Asa, 1992, p. 200.
(3) António VALE [pseudónimo de Álavaro Cunhal], «Cinco notas sobre forma e conteúdo», Vértice, vol. XIV, n.º 131-132, Coimbra, Ag.-Set. de 1954, p. 481.
(4) Álvaro CUNHAL, A Arte, o Artista e a Sociedade, Lisboa, Editorial Caminho, 1999, p. 99.
(5) Mário DIONÍSIO, «A Lã e a Neve por Ferreira de Castro», Vértice, vol. IV, n.º 49, Coimbra, Agosto de 1947, pp. 302-307.
(6) Urbano Tavares RODRIGUES, Um Novo Olhar sobre o Neo-Realismo, Lisboa, Moraes Editores, 1981, pp. 14-15.
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