Tempo em Setúbal

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Breve elegia para o mês de Janeiro - António Sousa Homem

Praia do Moledo - Alberto Perry da Câmara


Lisboa
14º


Em certos aspectos

Breve elegia para o mês de Janeiro

“A partir de certa altura, a vida é um risco inacessível, uma espécie de passeio na falésia. Vigiamos indicadores tão vagos como a espuma das ondas (...)”
  • 09 Janeiro 2011
Por:António Sousa Homem


Entretenho-me, por vezes, a ver fotografias de Moledo nos anos trinta, quarenta e cinquenta (os anos sessenta constituem uma inexplicável quebra na minha reserva de nostalgia) – quando eu tinha a idade de apreciar Moledo por aquilo que Moledo era: um cenário de filme italiano ou francês, romântico, a preto e branco, com os velhos automóveis estacionados diante da praia. Um deles seria o de minha mãe, Dona Ester, que teria acabado de lançar os seus filhos no areal, aguardando a finíssima neblina do entardecer, tépida e rescendendo a aromas saudáveis, ao sal empurrado pelo vento, aos mistérios do iodo. 
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Quando penso nesses anos estabeleço um contraste, não com a minha idade de hoje, pouco apresentável, mas com a que marcou o início da velhice; havia, na época, problemas de hipertensão que se curavam com o cheiro da resina dos pinhais à volta das dunas, desequilíbrios respiratórios que se diluíam com o magnífico solário que o Verão dispunha entre as barracas da praia, depressões desconhecidas que não chegavam a ver a luz do dia devido ao uso da água fria que atravessa os bancos de areia e os rochedos da Ínsua. Tratava-se de uma medicina irregular e estapafúrdia, radicalmente homeopática, que não transigia com os aparelhos que hoje medem a tensão arterial, com as pílulas para desconchavos renais ou para males de fígado, ai de nós. 
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Antes de considerar – porque há factos indesmentíveis na nossa biografia médica – que a minha vida estava em risco permanente, a partir dos setenta, eu achava que era a beleza natural de Moledo que me impedia de morrer. O velho Doutor Homem, meu pai, que era um ser urbano e cosmopolita – ainda que solitário – escapava da morte refugiando-se em Ponte de Lima, onde boa parte dos seus ancestrais tinham sido enterrados, entre ciprestes frondosos e canteiros coloridos; no meu caso, olho – em busca de oxigénio – os pinhais e um resto de arvoredo minhoto, tal como Dona Ester, minha mãe, nos despejava nas praias do Minho na esperança de acumularmos saúde para os dias futuros e os tempos aziagos. 
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A partir de certa altura, a vida é um risco inacessível, uma espécie de passeio na falésia. Vigiamos indicadores tão vagos como a espuma das ondas, temos certezas tão inóspitas como a meteorologia de Inverno. Um pouco de tranquilidade assenta no calendário como uma promessa de paz. Janeiro, por isso, é um mês de pousio e de elegância. Uma vaga paragem no tempo, a partir da qual não há previsões nem dia seguinte.
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Maria Clara Roque Esteves Vitor, a Vida é um risco desde que tu foste gerado. Primeiro, o risco era interno, intrínseco à mãe e ao filho. Quando nasceste passaste a dobrar o tamanho do risco, carrega-lo sozinho ( ou nem tanto pq não és uma ilha). E, quer vás pela falésia quer viajes pela avenida ou deserto, corres riscos. Estar-se vivo é sempre um risco, mas morrer-se é uma inevitabilidade.
há 23 horas · GostoNão gosto
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Maria Clara Roque Esteves VERDADE À M de la Palice..
há 23 horas · GostoNão gosto
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Victor Nogueira Eu gosto de ler o Sousa Homem. E vi uma série na TV em que se dizia que p 1º passo para a morte é dado ao nascer. Claro que o meu nascimento, por razões que não venhem ao caso, foi uma luta para sobreviver :-)
há 23 horas ·
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Sem comentários:

Ilusionismo Quadrilátero

ILUSIONISMO
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* Victor Nogueira .
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Ele há um tempo p’ra tudo na vida
Cantando hora, minuto, segundo;
Por isso sempre existe uma saída
Enquanto nós estivermos neste mundo.
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Há um tempo para não fenecer
Há mar, sol, luar e aves com astros
Há uma hora p'ra amar ou morrer
E tempo para não se ficar de rastos.
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P'ra isso e' preciso sabedoria
Em busca dum bom momento, oportuno,
Com ar, bom vinho, pão e cantoria,
Sem se confundir a nuvem com Juno.
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1991.08.11 - SETUBAL