Tempo em Setúbal

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Crónica de um domingo Passional por Ana Porfirio

 a Domingo, 20 de Fevereiro de 2011 às 15:46
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Os domingos são assim, acordo exactamente à hora exacta como se não fosse este o dia de descanso, mas como é domingo fico enroscada na cama, pego no livro e leio, leio até me doerem as costas, porque o meu corpo não está habituado a tanta hora de repouso, como é dia de descanso, como as torradas com calma, o sumo de laranja com prazer, com o café uma torrada com geleia, luxo de manhãs sem contra relógio, estendo e apanho roupa, dobro roupa, apresso-me a aproveitar o sol, encho as cordas, lençóis, toalhas de banho, soutiens, camisolas, tudo preso por molas coloridas, salgo o tamboril, tempero o frango, aos domingos saem comeres a prazer dos convivas, retiro do congelador algo mais para o jantar, vejo que faltam ovos depois de bater os existentes, com açúcar, chocolate, manteiga e colocar no forno, assim em dois andares, o bolo de chocolate que gostam, a bola de carnes que servirá de complemento em fatias macias com pedaços de fiambre, presunto, chouriço, coloco os pratos na mesa, pico os coentros, acaba o almoço, dois dedos de conversa, o cheiro da lixívia, porque aquela parede tem vindo a acumular humidade e tem de se limpar, aproveitando os dias de ócio, na escada das traseiras partilho um café e um cigarro, com a amiga de sempre que ao domingo almoça no andar ao lado, primeiro era uma forma da sogra a aliviar do stress semanal, agora é ela que vem orientar as coisas face ao stress da doença que faz a sogra não reconhecer os familiar ou não saber onde está a batedeira, trocamos mais uma conversa, as semanas correm rápidas e sem tempo,  sento-me um pouco, antes de pegar no resto das tarefas, falta passar a ferro, dobrar a montanha peúgas, tentar ainda que o máximo de roupa enxugue, amassar o rolo de carne, cozer grelos, talvez fazer uma sopa, adiantar aquele relatório que tem de ficar pronto amanhã, são assim os meus domingos passionais, dias de ócio de uma mulher que trauteia enquanto passa a ferro e que enche os espaços que consegue com pedaços de sonho.
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Ilusionismo Quadrilátero

ILUSIONISMO
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* Victor Nogueira .
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Ele há um tempo p’ra tudo na vida
Cantando hora, minuto, segundo;
Por isso sempre existe uma saída
Enquanto nós estivermos neste mundo.
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Há um tempo para não fenecer
Há mar, sol, luar e aves com astros
Há uma hora p'ra amar ou morrer
E tempo para não se ficar de rastos.
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P'ra isso e' preciso sabedoria
Em busca dum bom momento, oportuno,
Com ar, bom vinho, pão e cantoria,
Sem se confundir a nuvem com Juno.
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1991.08.11 - SETUBAL