11 de fevereiro de 2011
Jonathan Adams Bartlett
da leitura, ainda e sempre
. Revoadas
.
Revoadas brancas
sobre rochedos escuros:
gaivotas e espumas.
.
Oldegar Vieira
.
Revoadas brancas
sobre rochedos escuros:
gaivotas e espumas.
.
Oldegar Vieira
.
10 de fevereiro de 2011
Gravuras no Vento III
.
É flor esquecida,
esta que resta no mármore,
lembrando outra vida?
Um fruto maduro,
pendente, precisamente
na linha do muro.
Trapos do abandono
— do espantalho — vai levando
o vento do outono.
Sob o anil do céu
e ao sol — branco — um enxoval
num varal, ao vento...
Tê-las nas mãos quis,
pois jamais alguém falara
ao cego, de estrelas.
Junquilhos envergam.
Flores de neve pousando
nas hastes, de leve.
Na rua deserta
— desperdício — eis que ela passa
numa hora incerta.
Flor de velho amor,
expressiva? Só se for
— morta — a sempre-viva.
Serão. Ninguém fala.
Somente os trilos dos grilos
nos desvãos da sala.
Grávida ela passa,
e como vai cheia, cheia
de Vida e de Graça.
E o menino via:
afinal, esse "natal"...
não o merecia.
Não mais florescentes,
no lixo largadas, são
flores — defloradas.
Tatuagem móvel
no pavimento: a ramagem
ao luar e ao vento.
Que Deus o proteja
não pede. O que pede é pão
na porta da igreja.
Andorinhas: fusas
na pauta dos fios, ou...
ou semi-confusas?
Pétalas levava
— eram rosas — nas suas,
outras mãos, nervosas.
Sim, cantar mas sem
— como a cigarra — pensar
que a morte lhe vem.
Musicalizado
na folhagem, vai o vento,
músico em viagem.
Mudos nas estantes,
são pacíficos soldados?
Mudos mas prestantes.
Quase um rei deposto.
Não mais arde o sol da tarde.
No espelho, o seu rosto.
Auroralmagia!
O canto claro dos galos
clareando o dia.
Lâmina de luz
— a lagoa — estilhaçada
sob a chuvarada.
O mal da intriga
sofre o mundo mas, ao monge,
o silêncio abriga.
Somente a ilumina
— à imponente nave em sombras —
uma lamparina.
Brutos lenhadores
mas bastante foi que vissem
um ninho entre flores.
Túmida e sangrenta,
da escura folhagem surge
lenta, lenta, a lua.
Lavando e cantando,
o riacho e as lavadeiras,
cantando e lavando.
Quebrado o relógio,
fez-se eternidade o tempo
desmecanizado.
Por entre os telhados,
mamoeiras, bananeiras
— bem domesticados.
Numa folha escrevo
todo um poema: seu nome.
Na folha de um trevo.
Na concha rosada
de uma pétala, uma pérola
de orvalho, engastada.
Bagunça, arruaça,
nenhuma... a não ser dos pombos,
os donos da praça.
Sombra do seu corpo
diz que sou, mas foge e faz
sombra em minha vida.
Seixo — ao léu rolado,
rolarrolando... exilado
peso-de-papel.
Causa de desgosto,
a mensagem vai no rosto
como tatuagem.
Na ramada nua
pousado, um corvo, calado,
vê nascendo a lua.
Na clara do céu
flutua — lua de fogo —
a gema do sol.
Acaso... um acaso?
Ou proposital derrame
de tintas no ocaso?
Difuso e em surdina,
o rumor de uma cascata
dentro de uma neblina.
Pétalas caídas
ou borboletas dormidas
que o vento desperta?
Não lhe serve a prosa.
Só em linguagem poética
diga o nome "rosa".
.
Oldegar Vieira
.
É flor esquecida,
esta que resta no mármore,
lembrando outra vida?
Um fruto maduro,
pendente, precisamente
na linha do muro.
Trapos do abandono
— do espantalho — vai levando
o vento do outono.
Sob o anil do céu
e ao sol — branco — um enxoval
num varal, ao vento...
Tê-las nas mãos quis,
pois jamais alguém falara
ao cego, de estrelas.
Junquilhos envergam.
Flores de neve pousando
nas hastes, de leve.
Na rua deserta
— desperdício — eis que ela passa
numa hora incerta.
Flor de velho amor,
expressiva? Só se for
— morta — a sempre-viva.
Serão. Ninguém fala.
Somente os trilos dos grilos
nos desvãos da sala.
Grávida ela passa,
e como vai cheia, cheia
de Vida e de Graça.
E o menino via:
afinal, esse "natal"...
não o merecia.
Não mais florescentes,
no lixo largadas, são
flores — defloradas.
Tatuagem móvel
no pavimento: a ramagem
ao luar e ao vento.
Que Deus o proteja
não pede. O que pede é pão
na porta da igreja.
Andorinhas: fusas
na pauta dos fios, ou...
ou semi-confusas?
Pétalas levava
— eram rosas — nas suas,
outras mãos, nervosas.
Sim, cantar mas sem
— como a cigarra — pensar
que a morte lhe vem.
Musicalizado
na folhagem, vai o vento,
músico em viagem.
Mudos nas estantes,
são pacíficos soldados?
Mudos mas prestantes.
Quase um rei deposto.
Não mais arde o sol da tarde.
No espelho, o seu rosto.
Auroralmagia!
O canto claro dos galos
clareando o dia.
Lâmina de luz
— a lagoa — estilhaçada
sob a chuvarada.
O mal da intriga
sofre o mundo mas, ao monge,
o silêncio abriga.
Somente a ilumina
— à imponente nave em sombras —
uma lamparina.
Brutos lenhadores
mas bastante foi que vissem
um ninho entre flores.
Túmida e sangrenta,
da escura folhagem surge
lenta, lenta, a lua.
Lavando e cantando,
o riacho e as lavadeiras,
cantando e lavando.
Quebrado o relógio,
fez-se eternidade o tempo
desmecanizado.
Por entre os telhados,
mamoeiras, bananeiras
— bem domesticados.
Numa folha escrevo
todo um poema: seu nome.
Na folha de um trevo.
Na concha rosada
de uma pétala, uma pérola
de orvalho, engastada.
Bagunça, arruaça,
nenhuma... a não ser dos pombos,
os donos da praça.
Sombra do seu corpo
diz que sou, mas foge e faz
sombra em minha vida.
Seixo — ao léu rolado,
rolarrolando... exilado
peso-de-papel.
Causa de desgosto,
a mensagem vai no rosto
como tatuagem.
Na ramada nua
pousado, um corvo, calado,
vê nascendo a lua.
Na clara do céu
flutua — lua de fogo —
a gema do sol.
Acaso... um acaso?
Ou proposital derrame
de tintas no ocaso?
Difuso e em surdina,
o rumor de uma cascata
dentro de uma neblina.
Pétalas caídas
ou borboletas dormidas
que o vento desperta?
Não lhe serve a prosa.
Só em linguagem poética
diga o nome "rosa".
.
Oldegar Vieira
.
09 de fevereiro de 2011
.
Kees van Dongen
é mais marcante a dona ou o seu chapéu?
.
Gravuras no Vento II
.
Cabelos ao vento,
soltos, como vão revoltos
— ah — seus pensamentos.
Doze, compassadas,
tangendo o silêncio e o tempo,
doze badaladas...
Fina e clara, a chuva,
qual a janela que tem
mais bela cortina?
Nuvens e mais nuvens
a passar, bem que me deite.
Foi-se o ... meu luar.
Uma flor no mato
solitária, rubra, sangue
no verde compacto.
Não tem sul nem norte,
nem oeste ou leste — é céu.
Céu somente azul.
Voltevolteiando
no cristal do tanque, as carpas
silenciosonhando...
Sol da madrugada.
Vai surgindo: dentro de uma
teia iluminada!
Uma borboleta.
Nada mais, nem leve aragem.
E a rosa é desfeita.
Flor em que não vai
a libélula pousar.
Na espuma do mar.
Por acaso a sua
caminhada é a mesma, ou ela
o acompanha, a lua?
Ramagens crestadas
reflorindo: borboletas
nas cinzas, pousadas.
Voz da cachoeira,
ao viço da mata vai
líquida poeira.
Reflita: no espelho,
aquele que o imita,
quem será? Você?
Lembradas jamais,
as flores do morto vão
mortas, muito mais.
Tem cativo, o canto,
mas o muda borboleta
é livre, no entanto.
Noite a dentro, um cão
late, insone, a quem nem late,
seu insone irmão.
Ah, esse berreiro
das cigarras no austero
parque do mosteiro...
Num céu claro e puro,
um corvo paira sereno
— feio, torvo, escuro.
Cai a neve, e penso
no quanto se deve ser
puro como a neve.
Que fazer com as mãos,
não mais — não — senão guardar
seu fugaz perfume?
Ouracorrentado.
Entre seios femininos,
recrucificado.
Espana a poeira
de luz das estrelas, ou
— no vento — é palmeira?
Mudos edifícios
permutando, permutando
surdos malefícios.
Fuçando em monturos,
anjos andrajosos de
presépios escuros.
Chuva de verão,
chuva de flores na chuva.
Reflorindo, o chão.
Os bois, pacientes.
Mas as rodas, por que vão
gemendo, gementes?
Brancos, a igreja
e o casario entre verdes,
escorrendo ao rio.
Na rua quieta,
a flauta de um vagabundo
— músicopoeta.
Nas mãos de uma negra
— noite-escrava —, uma urupemba
peneirando estrelas.
.
Oldegar Vieira
.
Cabelos ao vento,
soltos, como vão revoltos
— ah — seus pensamentos.
Doze, compassadas,
tangendo o silêncio e o tempo,
doze badaladas...
Fina e clara, a chuva,
qual a janela que tem
mais bela cortina?
Nuvens e mais nuvens
a passar, bem que me deite.
Foi-se o ... meu luar.
Uma flor no mato
solitária, rubra, sangue
no verde compacto.
Não tem sul nem norte,
nem oeste ou leste — é céu.
Céu somente azul.
Voltevolteiando
no cristal do tanque, as carpas
silenciosonhando...
Sol da madrugada.
Vai surgindo: dentro de uma
teia iluminada!
Uma borboleta.
Nada mais, nem leve aragem.
E a rosa é desfeita.
Flor em que não vai
a libélula pousar.
Na espuma do mar.
Por acaso a sua
caminhada é a mesma, ou ela
o acompanha, a lua?
Ramagens crestadas
reflorindo: borboletas
nas cinzas, pousadas.
Voz da cachoeira,
ao viço da mata vai
líquida poeira.
Reflita: no espelho,
aquele que o imita,
quem será? Você?
Lembradas jamais,
as flores do morto vão
mortas, muito mais.
Tem cativo, o canto,
mas o muda borboleta
é livre, no entanto.
Noite a dentro, um cão
late, insone, a quem nem late,
seu insone irmão.
Ah, esse berreiro
das cigarras no austero
parque do mosteiro...
Num céu claro e puro,
um corvo paira sereno
— feio, torvo, escuro.
Cai a neve, e penso
no quanto se deve ser
puro como a neve.
Que fazer com as mãos,
não mais — não — senão guardar
seu fugaz perfume?
Ouracorrentado.
Entre seios femininos,
recrucificado.
Espana a poeira
de luz das estrelas, ou
— no vento — é palmeira?
Mudos edifícios
permutando, permutando
surdos malefícios.
Fuçando em monturos,
anjos andrajosos de
presépios escuros.
Chuva de verão,
chuva de flores na chuva.
Reflorindo, o chão.
Os bois, pacientes.
Mas as rodas, por que vão
gemendo, gementes?
Brancos, a igreja
e o casario entre verdes,
escorrendo ao rio.
Na rua quieta,
a flauta de um vagabundo
— músicopoeta.
Nas mãos de uma negra
— noite-escrava —, uma urupemba
peneirando estrelas.
.
Oldegar Vieira
.
Gravuras no Vento I
.
Gravura no vento.
Pois é desacontecido
o acontecimento.
Em êxtase, vê-las...
Uma a uma, todo o céu
porejando estrelas.
Pendentes de um fio,
gotas de chuva — ou de sol —
sob o sol do estio.
Dentro do aranhol,
de repente, frente a frente,
uma aranha e o sol.
Animal nasceu.
Desanimalmente, agora,
vive... num museu.
Tarde longa e quente.
Tange longe uma araponga
seu grito fremente.
Compensar sua ausência
— evidente, este evidência! —
só sua alegria.
À pista vermelha
de uma flor, vem uma rima
e aflorissa: abelha.
Incrível talento,
o desse escultor das nuvens
— genial! —, o vento.
Ploc! Uma rã pula
no silêncio da lagoa,
e o silêncio ondula.
Não metal de sinos.
Vil-metal agora é a rima
que canta o Natal.
Nos cinzeiros jazem
— antecipantes — as cinzas
mortais dos fumantes.
Seu corpo enriquece
a terra. E a saudade
é a flor que floresce.
Ela — uma andorinha —
vendo as outras que não estavam
— nem uma — sozinha.
Claro desafio:
sete cores luminosas
ante um céu sombrio.
Fantasmagoria:
uma borboleta preta
em noite vazia.
Interrogativo
à beira de um charco, um velho
coqueiro — pendido.
Lenta, lentamente,
um caleidoscópio gira.
Gira-sol poente.
Oca, ressequida,
na carcassa da cigarra,
em silêncio, a vida...
.
Oldegar Vieira
Gravura no vento.
Pois é desacontecido
o acontecimento.
Em êxtase, vê-las...
Uma a uma, todo o céu
porejando estrelas.
Pendentes de um fio,
gotas de chuva — ou de sol —
sob o sol do estio.
Dentro do aranhol,
de repente, frente a frente,
uma aranha e o sol.
Animal nasceu.
Desanimalmente, agora,
vive... num museu.
Tarde longa e quente.
Tange longe uma araponga
seu grito fremente.
Compensar sua ausência
— evidente, este evidência! —
só sua alegria.
À pista vermelha
de uma flor, vem uma rima
e aflorissa: abelha.
Incrível talento,
o desse escultor das nuvens
— genial! —, o vento.
Ploc! Uma rã pula
no silêncio da lagoa,
e o silêncio ondula.
Não metal de sinos.
Vil-metal agora é a rima
que canta o Natal.
Nos cinzeiros jazem
— antecipantes — as cinzas
mortais dos fumantes.
Seu corpo enriquece
a terra. E a saudade
é a flor que floresce.
Ela — uma andorinha —
vendo as outras que não estavam
— nem uma — sozinha.
Claro desafio:
sete cores luminosas
ante um céu sombrio.
Fantasmagoria:
uma borboleta preta
em noite vazia.
Interrogativo
à beira de um charco, um velho
coqueiro — pendido.
Lenta, lentamente,
um caleidoscópio gira.
Gira-sol poente.
Oca, ressequida,
na carcassa da cigarra,
em silêncio, a vida...
.
Oldegar Vieira
Na minha bagagem
.
Na minha bagagem cabem todas as estações que vivi
Entre tantas outras coisas de duvidosa utilidade cabem ainda
na minha bagagem
as minhas memórias
e os meus esquecimentos
(sobretudo aqueles de que ainda me lembro)
A minha bagagem parece-me muitas vezes enorme
mas depois – quem sabe? - talvez haja por ali um problema de arrumação
um excesso de cachecóis a falta de qualquer coisa
Certo, certo, é que a sinto pequena, a minha bagagem
quando me lembro de mim
em menino
e de como me pareciam tão grandes todos os adultos
A minha bagagem não serve de exemplo senão a mim próprio
e ao que de mim resta
depois de tantas viagens feitas e de tantas outras
que ficaram por fazer
Tem pouco de memorável
a minha bagagem
mas cabem nela
uma quantidade de coisas que não esqueci
um par de sonhos
uns ténis para jogar à bola
os meus quixotes
aqueles que amo para lá de qualquer meridiano
Comparecem ainda na minha bagagem
uns quantos amigos que considero luminosos
mesmo quando não são brilhantes
e que seriam sempre raros mesmo se fossem muitos
O futuro da minha bagagem confunde-se com o meu.
.
Rui Antunes
.
Na minha bagagem cabem todas as estações que vivi
Entre tantas outras coisas de duvidosa utilidade cabem ainda
na minha bagagem
as minhas memórias
e os meus esquecimentos
(sobretudo aqueles de que ainda me lembro)
A minha bagagem parece-me muitas vezes enorme
mas depois – quem sabe? - talvez haja por ali um problema de arrumação
um excesso de cachecóis a falta de qualquer coisa
Certo, certo, é que a sinto pequena, a minha bagagem
quando me lembro de mim
em menino
e de como me pareciam tão grandes todos os adultos
A minha bagagem não serve de exemplo senão a mim próprio
e ao que de mim resta
depois de tantas viagens feitas e de tantas outras
que ficaram por fazer
Tem pouco de memorável
a minha bagagem
mas cabem nela
uma quantidade de coisas que não esqueci
um par de sonhos
uns ténis para jogar à bola
os meus quixotes
aqueles que amo para lá de qualquer meridiano
Comparecem ainda na minha bagagem
uns quantos amigos que considero luminosos
mesmo quando não são brilhantes
e que seriam sempre raros mesmo se fossem muitos
O futuro da minha bagagem confunde-se com o meu.
.
Rui Antunes
.
Harold Harvey
a mulher do pintor, retratada em 1917
A vida é a vida
(gentileza de Amélia Pais)
.
A vida é a vida,
e não os seus resultados.
Não a casa grande
no alto da montanha,
nem as coroas e medalhas
(áureas ou de imitação)
que ocupam as estantes.
Não é só isso a vida.
A vida é a vida,
e isso é o mais importante;
aquele que a tira,
tira tudo.
Não as grandes viagens
a terras e cidades longínquas,
nem as estranhas gentes
(melhor ou pior fotografadas)
que ali encontramos.
Não é só isso a vida.
A vida é a vida.
E isso é o mais importante;
aquele que a tira,
tira tudo.
Não a chuva sobre o telhado,
nem o granizo na janela,
nem a neve, nem a lua,
nem sequer mesmo a luz
(tão maravilhosa).
Não é só isso a vida.
A vida é a vida.
E isso é o mais importante;
aquele que a tira,
tira tudo.
Não essa mulher ou esse homem
que nos sussurra ao ouvido,
tampouco os pais ou os filhos,
os irmãos ou os amigos
(de agora e de sempre).
Não é só isso a vida.
A vida é a vida.
E isso é o mais importante;
aquele que a tira,
tira tudo.
.
Bernardo Atxaga, trad. Eduardo Jorge Madureira
.
.
A vida é a vida,
e não os seus resultados.
Não a casa grande
no alto da montanha,
nem as coroas e medalhas
(áureas ou de imitação)
que ocupam as estantes.
Não é só isso a vida.
A vida é a vida,
e isso é o mais importante;
aquele que a tira,
tira tudo.
Não as grandes viagens
a terras e cidades longínquas,
nem as estranhas gentes
(melhor ou pior fotografadas)
que ali encontramos.
Não é só isso a vida.
A vida é a vida.
E isso é o mais importante;
aquele que a tira,
tira tudo.
Não a chuva sobre o telhado,
nem o granizo na janela,
nem a neve, nem a lua,
nem sequer mesmo a luz
(tão maravilhosa).
Não é só isso a vida.
A vida é a vida.
E isso é o mais importante;
aquele que a tira,
tira tudo.
Não essa mulher ou esse homem
que nos sussurra ao ouvido,
tampouco os pais ou os filhos,
os irmãos ou os amigos
(de agora e de sempre).
Não é só isso a vida.
A vida é a vida.
E isso é o mais importante;
aquele que a tira,
tira tudo.
.
Bernardo Atxaga, trad. Eduardo Jorge Madureira
.
08 de fevereiro de 2011
Albert Anker
quando a leitura é uma paixão maior
.
Da Manhã
.
O corpo saturado e ébrio
desperta
ainda descalço
restolho e quartzo
O folião foi escancarado
por uma pontual lágrima nocturna
Quantas máscaras vestidas
Quantas máscaras tragadas
na noite passada?
Todas as minhas mãos estão levantadas
e agarram memórias
de um pássaro ferido
Aguardo a noite próxima e estou já contigo
e tudo em mim é noite e dia agora
Estou em paz
Amanhã iremos jogar futebol – tu vens também
Verás como vale a pena
a fresca brisa da manhã
.
Rui Antunes
.
O corpo saturado e ébrio
desperta
ainda descalço
restolho e quartzo
O folião foi escancarado
por uma pontual lágrima nocturna
Quantas máscaras vestidas
Quantas máscaras tragadas
na noite passada?
Todas as minhas mãos estão levantadas
e agarram memórias
de um pássaro ferido
Aguardo a noite próxima e estou já contigo
e tudo em mim é noite e dia agora
Estou em paz
Amanhã iremos jogar futebol – tu vens também
Verás como vale a pena
a fresca brisa da manhã
.
Rui Antunes
.
07 de fevereiro de 2011
Steuben
J'ai accompli de délicieux voyages, embarqué sur un mot.
Honnoré de Balzac
Honnoré de Balzac
.
.
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