Fogo na Noite Escura foi o primeiro grande romance de Fernando Namora e conserva uma atualidade histórica flagrante, e uma dimensão existencial muito mais profunda do que aquela que se lhe poderia supor no momento em que surge.
Editado por Thesaurus, 1ª edição, 1973, 480 páginas
Editado por Thesaurus, 1ª edição, 1973, 480 páginas
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http://www.thesaurus.com.br/livro/1360/fogo-na-noite-escura/
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Já a acção de Fogo Na Noite Escura, de Fernando Namora, publicado em 1943, decorre em pleno ambiente universitário da Coimbra do tempo, integrando personagens estudantes de Medicina, como Júlio e Mariana, de Direito, e Engenharia, como Zé Maria e Abílio; e outras como Luís Manuel, Dina, Eduarda, portadoras cada uma delas das marcas neo-realistas da sua proveniência sociocultural, mas, quando alunos da Universidade, vivendo, no tempo e espaço da narração, num hiato entre classes, que decorre da condição de estudantes que lhes é comum, e que comporta um nivelamento persistentemente denunciado como falso ou artificial ao longo da narrativa. Estava‑se em 1943, em plena II Grande Guerra, e o romance sobre o ambiente universitário que se escrevia em Portugal, narrado ainda da perspectiva do estudante, não era significativamente diferente das obras da mesma índole que se escreviam em Inglaterra e nos Estados Unidos.
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O panorama viria a modificar‑se radicalmente no pós‑guerra de 39‑45: principalmente a partir do dealbar da década de 50, o romance académico muda de natureza e assume, em Inglaterra e nos Estados Unidos, as proporções e as características que vão contribuir para a sua definição como subgénero. As obras, cujos autores são professores universitários, passam a ser narradas do ponto de vista do Professor, e a veicular um leque mais alargado, e crítico, de perspectivação social. Foi esta mudança de natureza que, curiosamente, o contexto português não acompanhou.
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Maria Filipa dos Reis
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http://www.fcsh.unl.pt/invest/edtl/verbetes/R/romance_academico.htm
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Fernando Namora
Fernando Gonçalves Namora nasceu em Condeixa-a-Nova, no distrito de Coimbra, a 15/04/1919. Os pais eram descendentes de camponeses do concelho de Ansião, no distrito de Leiria. Depois de concluída a instrução primária, iniciou os estudos secundários no Colégio Camões, em Coimbra, tendo em seguida transitado para o Liceu Camões, em Lisboa, onde foi colega de Jorge de Sena. De novo em Coimbra, no Liceu José Falcão, dirige o jornal académico Alvorada e escreve a sua primeira obra, uma colectânea de novelas, Almas sem Rumo (1935), nunca publicada. Em 1937 chega a anunciar a publicação da novela Pecado Venial, o que também nunca veio a acontecer.
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A sua iniciação literária fez-se sob o signo presencista, mas rapidamente foi atraído pela estética neo-realista. Fez parte do grupo do "Novo Cancioneiro" e foi um livro seu (Terra) que iniciou a colecção, em 1941.
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Continuou os estudos na Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Medicina. O seu interesse pela escrita acentuou-se durante os anos da mocidade e são dessa época as primeiras obras publicadas, nomeadamente o romance de estreia (As Sete Partidas do Mundo), galardoado com o Prémio Almeida Garrett, que marca a sua adesão à corrente neo-realista.
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Concluído o curso, exerceu medicina em ambientes diversos, sobretudo na Beira Baixa e Alentejo, além da terra natal, Condeixa, e essa experiência clínica e humana permitiu-lhe recolher múltiplos elementos que aparecem transfigurados na sua obra literária.
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Segundo A. J. Saraiva e O. Lopes, Fogo na Noite Escura é o único romance neo-realista sobre a juventude universitária, enquanto Casa da Malta retrata a vida dos ganhões alentejanos e Retalhos da Vida de um Médico traduzem literariamente a sua experiência de médico rural.
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Recebeu o Prémio José Lins do Rego, pelo romance Domingo à Tarde. Foi-lhe atribuído também o Prémio Ricardo Malheiros.
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O seu romance evoluiu de uma espécie de inquérito social para construções romanescas mais livres, abertas a dimensões picarescas e poéticas. Em algumas das suas obras nota-se a influência da corrente existencialista (O Homem Disfarçado e Cidade Solitária) e em Domingo à Tarde percebe-se uma harmoniosa integração desse existencialismo com um neo-realismo amadurecido. Nos anos sessenta e setenta a ficção cede o lugar à crónica e impressões.
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Além da ficção e da poesia, cultivou uma espécie de crónica romanceada, em que se fundem a reportagem e o ensaio.
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Retalhos da Vida de um Médico, Domingo à Tarde e O Trigo e o Joio foram adaptados para o cinema e, o primeiro, também para a televisão.
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Era membro da Academia das Ciências de Lisboa.
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Morreu em Lisboa a 31/01/1989.
(Maio/98)
. http://anajorge.tripod.com/namora.htm
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