Tempo em Setúbal

domingo, 21 de novembro de 2010

Cinco Dias, Cinco Noites - Álvaro Cunhal e Fonseca e Costa

Cinco Dias, Cinco Noites Poster
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Filme português, dia 27 de Março, às 21:00 horas, no canal Lusomundo Gallery.
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  • Duração 00:01:52

 
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malmaior | 6 de Abril de 2010 | 2 utilizadores que gostaram deste vídeo, 0 utilizadores que não gostaram deste vídeo
Cena retirada do filme de José Fonseca e Costa, de 1996, baseado na obra de Manuel Tiago, pseudónimo literário de Álvaro Cunhal. Esta parte foi rodada em Arco de Baúlhe (Cabeceiras de Basto).
Todos os direitos reservados à Madragoa Filmes.
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atomicorecp | 1 de Maio de 2008 | 3 utilizadores que gostaram deste vídeo, 0 utilizadores que não gostaram deste vídeo
Portugal, final dos anos 40. André, 19 anos, vê-se forçado a abandonar o país depois de fugir da prisão. No Porto, uns amigos arranjam-lhe um passador (Lambaça), contrabandista dado ao vinho e brigão, que conhece bem a fronteira de Trás-os-Montes. A sua antipatia e desconfiança mútua nascem logo no primeiro encontro. Mas, ao longo de cinco dias e cinco noites, atravessando montes e vales, escondendo-se da guarda e da polícia política, e com a ajuda de muito conhecidos de Lambaça (entre os quais a bela Zulmira), os dois homens vão ter tempo para se conhecer melhor um ao outro. E desse antipatia e desconfiança iniciais, do encontro desses dois mundos que de outra forma nunca se cruzariam, irá talvez ficar, quando finalmente se despedem, uma amizade e admiração que nenhum deles esquecerá.
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Synopsis:
Set in 1949 Portugal when the country was under strict right-wing government, this drama follows the flight of a 19-year-old political fugitive and the resourceful but mysterious older man who agrees to help him get out of the country. The precise reasons why young Andre, who was involved with a revolutionary movement, was put into prison is never clarified. After his escape from prison, Andre is introduced to the button-down Lambaca. He is not what Andre was expecting, and he does not completely trust the gun-toting Lambaca, but with everything to lose -- including the fortune in cash he carries upon him -- the youth has no choice but to follow him. As the difficult trek into the north continues, Andre's trepidation mounts.

~ Sandra Brennan, All Movie Guide
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http://www.hollywood.com/movie/Cinco_Dias_Cinco_Noites/170868
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Cinco Dias, Cinco Noites

Novela de Manuel Tiago (pseudónimo literário de Álvaro Cunhal) publicada em 1975.
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A acção desenrola-se no Norte de Portugal, nos finais dos anos 40, e centra-se em duas personagens, oriundas de realidades diferentes que, perante a adversidade, vão estabelecer um enorme respeito uma pela outra.
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André, com 19 anos, evade-se da prisão e é forçado a fugir de Portugal. Na cidade do Porto, um amigo apresenta-lhe um passador, contrabandista e com cadastro, conhecido como Lambaça, que vai ajudar o jovem a passar a fronteira de Trás-os-Montes, pois conhece bem a região. A partir do momento em que se conhecem, desenvolve-se um sentimento de antipatia entre André e Lambaça. No entanto, para transpor a fronteira, os dois convivem cinco dias e cinco noites, por montes e vales, a tentar despistar a polícia, e a desconfiança inicial entre eles começa a desvanecer-se, passando a gerar-se um sentimento de respeito e admiração que prevalece após a sua separação.
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A obra foi adaptada para cinema, com título homónimo, em 1996, sob a realização de José Fonseca e Costa, contando com as interpretações de Vítor Norte e Paulo Pires. No Festival de Cinema Latino de Gramado, em 1996, ganhou o Prémio de Melhor Fotografia e de Melhor Música e ganhou também, nesse ano, o Globo de Ouro para o Melhor Filme.



Como referenciar este artigo:
Cinco Dias, Cinco Noites. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-11-21].
Disponível na www: .
 
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Segunda-feira, Abril 13, 2009

Crónicas Literárias: Cinco Dias, Cinco Noites


Portugal, fim da década de 40. André, jovem militante comunista, está prestes a ser detido pela polícia política, vendo-se forçado a abandonar clandestinamente o país. É idealizado um plano de fuga através da fronteira da região de Trás-os-Montes com Espanha. Para o plano ser levado avante é necessário o recrutamento de um passador, alguém que conheça bem os terrenos fronteiriços. Alguns camaradas de André recomendam-lhe Lambaça, contrabandista, um tipo rude e autoritário, dado ao vinho e à desordem.

A antipatia e desconfiança mútua inicial prolongam-se durante cinco dias e cinco noites, período em que percorrem montanhas e vales, entre desacordos e privações, escondendo-se da guarda e da polícia política, e contando com a ajuda de alguns conhecidos de Lambaça, entre os quais a bela Zulmira.

A história escrita por Manuel Tiago, pseudónimo de Álvaro Cunhal, relata de forma sublime a confrontação psicológica entre dois homens, oriundos de universos distintos, mas em busca do mesmo objectivo, a liberdade!
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No final, é notória a subtileza com que é descrito o respeito mútuo entre André e Lambaça, construído nas situações mais adversas, embora fiquem no ar alguns pontos de interrogação, ideais para quem tenha uma imaginação mais fértil...

Em 1996, Fonseca e Costa, adapta o o romance ao cinema, realizando um filme inteligente e sensível com excelentes interpretações de Paulo Pires e Vítor Norte.
 
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http://jp-doceilusao.blogspot.com/2009/04/cronicas-literarias-cinco-dias-cinco.html
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Cinco dias, cinco noites

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Longe de veredas e povoações, a serra ondulava pedregosa e nua. Só aqui e além, ao fundo das encostas ou por detrás dos cabeços, repousavam manchas macias de terra lavrada. Donde e quem vinha lavrá-la parecia mistério em sítio tão desolado e ermo. Toda a tarde caminharam, o Lambaça adiante, André atrás. Nem uma só vez avistaram um ser humano. Não fora o sol derramando luz no ar e nas coisas, não fora o ar límpido e leve, aquele deserto e aquele silêncio seriam intoleravelmente opressivos. Assim, a serra abria-se à intimidade, numa carícia tranquila e confiante.

Mas, quando o sol começou a aproximar-se do horizonte, e os vales se diluíram em penumbras, e os cabeços e rebolos estenderam as sombras, e o ar começou a pesar de humidade e frio, então, sobranceira, a serra ganhou subitamente nova grandeza, como que olhando os intrusos com hostilidade.

Pseudónimo literário de Álvaro Cunhal, que com ele assinou obras de ficção, designadamente Até Amanhã, Camaradas (1975), Cinco Dias, Cinco Noites (1975) e A Estrela de Seis Pontas (1994, adaptado para cinema por José Fonseca e Costa). A verdadeira identidade de Manuel Tiago só foi confirmada aquando da publicação deste último romance. Durante anos, muito se especulou acerca da autoria das obras. 
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Paperback, Large Print, 88 pages -  Published 1994 by Editorial Avante - ISBN - 9725502337
primary language -Portuguese -url  htttp://www.editorial-avante.pcp.pt/
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Morreu Álvaro Cunhal
Criado segunda-feira, 13 de Junho de 2005
Última actualização quarta-feira, 15 de Junho de 2005
 
DR

Por Torcato Sepúlveda
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A ficção de Cunhal/Tiago entre a lucidez e a missa ideológica
Por Adelino Gomes
14.06.2005
Álvaro Cunhal foi talvez o único dirigente importante do comunismo internacional que cultivou a ficção. Mais uma singularidade deste homem singular.
 
É claro que não escreveu romances, novelas e contos com o objectivo de criar um mundo, como acontece com a generalidade dos romancistas, mas para testemunhar um mundo que ele conhecia bem: o dos revolucionários profissionais leninistas, que procuravam derrubar o fascismo e o capitalismo.

A literatura de Álvaro Cunhal tem fins pragmáticos: explicar ao povo e aos militantes do Partido Comunista Português (PCP) qual devia ser o comportamento dos revolucionários na clandestinidade e perante a polícia política.

Ora, enquanto este objectivo teve razão de ser, as obras ficcionais de Cunhal atingiram níveis de qualidade acima da média; quando, depois da revolução do 25 de Abril de 1974, o então secretário-geral do PCP prosseguiu a sua aventura literária, a qualidade decresceu, como se ele adivinhasse, mas não quisesse ou pudesse admiti-lo, que aquele tipo de literatura era inútil. A complexidade temática do romance Até Amanhã, Camaradas e do conto Cinco Dias, Cinco Noites, o carácter multifacetado das suas personagens, estão aí para prová-lo. Os títulos posteriores são de uma banalidade estilística confrangedora.

Em Até Amanhã, Camaradas e em Cinco Dias, Cinco Noites há muita missa ideológica, muita predicação pedagógica; mas há também personagens contraditórias e ambíguas que evoluem numa realidade semovente. Isto é, o mundo - quer o grande mundo, quer a sociedade restrita e fechada dos clandestinos - não é pintado a preto e branco. Este romance e este conto pretendem ser - e são - o catálogo completo das situações que os revolucionários profissionais enfrentavam no Portugal salazarista.

Com a leitura de Até Amanhã, Camaradas ficamos a saber quase tudo, desde como se preparavam e realizavam greves e manifestações operárias e camponesas, até como devíamos comportar-nos nos interrogatórios da PIDE, passando pela forma de montar uma casa clandestina e pela maneira de conseguir fundos dos simpatizantes. Faltava, no entanto, uma situação que, por necessidade narrativa ou esquecimento, o autor deixara de lado: a passagem ilegal de fronteiras. Falha colmatada em Cinco Dias, Cinco Noites.

A influência do realismo americano

Se os dois livros fossem apenas isto, teriam interesse sociológico e histórico evidente, e ponto. Acontece, porém, que há mais, bastante mais. A personagem Ramos, de Até Amanhã, Camaradas, é tão rica em contradições que o autor acaba por matá-la para que a narrativa prossiga. O seu desejo é tão vivo, tão anárquico que tanto as mulheres na rua como as camaradas nas casas clandestinas caem sob o charme deste homem alegre e dominador. O partido critica Ramos por ele dormir com a mulher de um legionário, nem sequer tomando cautelas de segurança mínimas; Ramos aceita a crítica com dificuldade. Mas que diria o partido - se soubesse, pois não sabe - que ele está prestes a dormir com a camarada Maria, companheira de outro funcionário? Antes que o partido saiba, Cunhal fá-lo tombar assassinado pela PIDE.

Em Cinco Dias, Cinco Noites, o militante que se prepara para atravessar a salto a fronteira é o seu tanto ingénuo e desconhecedor das coisas da vida; Cunhal coloca-o frente ao passador Lambaça, tipo áspero, gozão, sarcástico. Os militantes são enfiados na tina cheia de água suja da realidade contraditória.

É extraordinário, no entanto, que esta muito lúcida visão do mundo seja sistematicamente acompanhada de uma espécie de missa ideológica, durante a qual os padres partidários proferem homilias que já na altura deveriam ser insólitas em qualquer país civilizado. A crítica às mulheres vistosas é a mais ridícula. Certas personagens e o narrador não se limitam a sustentar - o que seria de certa forma defensável - que uma mulher espampanante se torna visível para toda a gente, inclusive para a polícia. Não. Há que fazer a defesa absolutista das mulheres sérias, discretas, modestas. Salazar não diria coisas diferentes.

Esperar-se-ia que literariamente Álvaro Cunhal estivesse preso aos cânones do realismo socialista soviético. É falso. Se alguma influência estética se nota nestes dois livros é a do realismo norte-americano, de John Steinbeck, de Ernest Hemingway, e sobretudo de Erskine Caldwell.

A chapa de zinco que atravessa a estrada em frente do funcionário político Vaz, em dia de grande tempestade, logo no início de Até Amanhã, Camaradas, é sintomática desse estilo. A cena da manifestação reprimida do mesmo romance é das mais cinematográficas da literatura portuguesa. Um homem baixo e cheio que surge de noite num pinhal e parece alto e elegante demonstra a grande visualidade desta criação romanesca. Não será por acaso que os dois livros foram requisitados pelo cinema português: José Fonseca e Costa adaptou Cinco Dias, Cinco Noites [e Até Amanhã, Camaradas foi realizado por Joaquim Leitão e exibido este ano como mini-série televisiva na SIC].

O resto da obra romanesca de Álvaro Cunhal apresenta escasso valor literário. A Estrela de Seis Pontas tem este interesse limitado: o escritor mergulha no ambiente dos presos de delito comum, gente com quem se cruzou na cadeia enquanto preso político. Um caldo deslavado de bons sentimentos e de moralismo mais ou menos bem intencionado. A Casa de Eulália provocou curiosidade, pois a acção passa-se em Espanha, durante a Guerra Civil, em que Cunhal participou não se sabe a fazer o quê. A estória é fraca e a versão da História oficialmente estalinista. Ou Álvaro Cunhal - que como ficcionista foi quase sempre autobiográfico - andou lá a fazer nada, ou não conta o que andou lá a fazer. Fronteiras, Um Risco na Areia, Sala 3 e Outros Contos, Os Corrécios e Outros Contos, Lutas e Vidas - Um Conto são já o retomar penoso de episódios incluídos nos dois primeiros títulos do autor, como se plagiasse a própria obra.

Em 1994, Cunhal declarou, em conferência de imprensa, que era Manuel Tiago, sob cujo pseudónimo assinara - e continuou a assinar - a sua obra romanesca. Toda a gente já sabia que Manuel Tiago era ele. Porquê denunciar este segredo de Polichinelo quando a sua ficção decrescia de qualidade? São ínvios os caminhos da autoria individual.

Álvaro Cunhal foi um homem cultíssimo. Desde a análise literária (defendeu na juventude o realismo socialista contra José Régio, sob o pseudónimo de António Vale - eis um pseudónimo que nunca assumiu - e publicou A Arte, o Artista e a Sociedade) até às artes plásticas (ilustrou o livro Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes, e estão editados os seus Desenhos da Prisão), passando pela investigação histórica (As Lutas de Classes em Portugal Nos Fins da Idade Média), tocou quase todas as teclas do piano.

A História foi-lhe madrasta. A História lá teria as suas razões. Ficará o melhor, a lucidez: "Assim começou Afonso a sua vida de funcionário do Partido. Receber malas e embrulhos. Separar imprensa. Fazer pacotes. Guardar malas. Enrolar guitas. Receber novos pacotes. Esperar comboios. Esperar camionetas. Fazer tempo em sítios descampados. Tomar o comboio. Receber embrulhos. Passar dias inteiros sem nada que fazer. Esfalfar-se outros dias numa dobadoira de madrugada a madrugada. Não dormir umas noites. Dormir depois dias inteiros. Sempre a mesma coisa, monótona, aborrecida, sem qualquer interesse."
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Ilusionismo Quadrilátero

ILUSIONISMO
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* Victor Nogueira .
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Ele há um tempo p’ra tudo na vida
Cantando hora, minuto, segundo;
Por isso sempre existe uma saída
Enquanto nós estivermos neste mundo.
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Há um tempo para não fenecer
Há mar, sol, luar e aves com astros
Há uma hora p'ra amar ou morrer
E tempo para não se ficar de rastos.
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P'ra isso e' preciso sabedoria
Em busca dum bom momento, oportuno,
Com ar, bom vinho, pão e cantoria,
Sem se confundir a nuvem com Juno.
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1991.08.11 - SETUBAL