Tempo em Setúbal

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Li hoje quase duas páginas - Alberto Caeiro

FERNANDO PESSOA
( ALBERTO CAEIRO )

Li hoje quase duas páginas 
Do livro dum poeta místico, 
E ri como quem tem chorado muito. 
Os poetas místicos são filósofos doentes, 
E os filósofos são homens doidos.
Porque os poetas místicos dizem que as flores sentem 
E dizem que as pedras têm alma 
E que os rios têm êxtases ao luar.
Mas flores, se sentissem, não eram flores, 
Eram gente; 
E se as pedras tivessem alma, eram cousas vivas, não eram pedras; 
E se os rios tivessem êxtases ao luar, 
Os rios seriam homens doentes.
É preciso não saber o que são flores e pedras e rios 
Para falar dos sentimentos deles. 
Falar da alma das pedras, das flores, dos rios, 
É falar de si próprio e dos seus falsos pensamentos. 
Graças a Deus que as pedras são só pedras, 
E que os rios não são senão rios, 
E que as flores são apenas flores.
Por mim, escrevo a prosa dos meus versos 
E fico contente, 
Porque sei que compreendo a Natureza por fora; 
E não a compreendo por dentro 
Porque a Natureza não tem dentro; 
Senão não era a Natureza.

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Ilusionismo Quadrilátero

ILUSIONISMO
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* Victor Nogueira .
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Ele há um tempo p’ra tudo na vida
Cantando hora, minuto, segundo;
Por isso sempre existe uma saída
Enquanto nós estivermos neste mundo.
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Há um tempo para não fenecer
Há mar, sol, luar e aves com astros
Há uma hora p'ra amar ou morrer
E tempo para não se ficar de rastos.
.
P'ra isso e' preciso sabedoria
Em busca dum bom momento, oportuno,
Com ar, bom vinho, pão e cantoria,
Sem se confundir a nuvem com Juno.
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1991.08.11 - SETUBAL