Tempo em Setúbal

terça-feira, 26 de julho de 2011

Um pouco de Nazim Hikmet

Confraria da Feira Quero-Quero
Foto de Rafael Cabral Cruz

SÁBADO, 7 DE MAIO DE 2011


Um pouco de Nazim Hikmet

Era  tempo de estudo, estava na faculdade e me mudara para uma casa conjugada próxima ao campus da FURG, no centro da cidade de Rio Grande. Às vezes era insuportável a poluição da Refinaria que ficava próxima. Naquela casinha, morava com o estudante de Direito Flávio Xavier, que havia voltado de uma estada na Patrice Lumumba em Moscou. Entre as relíquias que trouxe de lá estava um livro com a tradução para espanhol de um poeta turco, desconhecido para nós, mas que havia escrito poemas que tocavam profundamente o nosso ser. Este poeta era Nazim Hikmet. Revolucionário, foi perseguido e preso em seu país e acabou vivendo a maior parte de sua vida no exílio e na prisão. Nazim Hikmet nasceu em 1901 e faleceu em 1963, quando nasci. Seguem dois poemas do grande poeta turco.

Nazim Hikmet


Carta para Minha Mulher


Quero morrer antes de você.
Você acha que aquele que vai depois
encontra o que foi primeiro?
Eu acho que não.
O melhor seria me cremar
e me colocar num vaso
sobre o aparador de sua lareira.
E garanta que o vaso
seja cristalino,
assim você pode me ver lá dentro…
pode ver meu sacrifício:
desisti de ser terra,
desisti de ser uma flor,
para ficar somente junto a você.
E eu me tornei pó
para viver contigo.
Assim, quando você morrer,
você pode entrar aqui no meu vaso
e então viveremos juntos,
suas cinzas com as minhas,
até que uma noiva tonta
ou um neto rebelde
nos jogue fora…
Mas
a essa altura
já estaremos
de tal forma
misturados
que mesmo vertidos nossos átomos
cairão lado a lado.
Mergulharemos na terra juntos.
E se um dia uma flor selvagem
encontrar água e brotar desse pedaço de terra,
sua haste terá
por certo dois botões:
um será você,
o outro, eu.

Não é que eu
esteja para morrer.
Quero criar ainda outro filho.
Estou cheio de vida.
Meu sangue é quente.
Viverei ainda muito, muito tempo -
ao teu lado.
A morte não me mete medo,
apenas não consigo sentir especial atração pelos preparativos
de nosso funeral.
Mas tudo isso pode mudar
antes que eu esteja morto.
Alguma chance de que você saia logo da prisão?
Algo dentro de mim me diz:
Talvez.


Noite de Outono



Nesta noite de outono
estou pleno de tuas palavras
palavras eternas como o tempo,
palavras pesadas como a mão,
cintilantes como a estrela.
Da tua testa, da tua carne
Do teu coração...
Sinto-me junto das tuas palavras
as tuas palavras carecem de ti
As tuas palavras, mãe
As tuas palavras, amor
As tuas palavras, amiga
Era triste, amar
Era alegre, plenas de esperança
Era corajoso, heróico
As tuas palavras..
eram homens...



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Ilusionismo Quadrilátero

ILUSIONISMO
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* Victor Nogueira .
.
Ele há um tempo p’ra tudo na vida
Cantando hora, minuto, segundo;
Por isso sempre existe uma saída
Enquanto nós estivermos neste mundo.
.
Há um tempo para não fenecer
Há mar, sol, luar e aves com astros
Há uma hora p'ra amar ou morrer
E tempo para não se ficar de rastos.
.
P'ra isso e' preciso sabedoria
Em busca dum bom momento, oportuno,
Com ar, bom vinho, pão e cantoria,
Sem se confundir a nuvem com Juno.
.
1991.08.11 - SETUBAL