O Dia Seguinte
De Luiz Francisco Rebello, publicada, em 1954, no volume coletivo Encontro, a peça O Dia Seguinte foi reeditada no primeiro volume de Teatro do autor, com O Mundo Começou às 5 e 47 e Alguém Terá que Morrer, em 1959. Vindo a ser objeto de várias traduções e sucessivas representações no estrangeiro, a sua estreia no Teatro Nacional, em 1952, foi proibida pela censura, sendo representada apenas em 1963, depois de ter sido levada à cena em Paris, em Espanha, no Brasil, na Bélgica e em Israel. No posfácio a Teatro I, o autor integra o texto numa fase "experimental" que atravessou entre 1946 e 1951, considerando O Dia Seguinte a sua peça preferida por ser a que realiza melhor a sua conceção de teatro: "Partindo de uma base realista, mas voltando deliberadamente as costas a todo o realismo literal de superfície; procurando captar a vida na sua totalidade, e por isso misturando propositadamente o real e o imaginário, o que foi e o que poderia ter sido; situando as personagens num mundo acima do espaço e do tempo que é, ou pretende ser, a transposição mítica do mundo fechado em que vivemos - O Dia Seguinte vale, pelo menos, como documento de uma época batida por todos os desesperos e rica de todas as promessas." (cf. posfácio a Teatro I, 1959, p. 225). Depois de a vida lhes ter tirado tudo, "amor, confiança, coragem", não vendo nenhuma solução para a sua miséria, um jovem casal decide suicidar-se, dizendo não a uma vida que não traria futuro ao filho que em breve iria nascer. Depois da morte, são julgados e acusados de traição por não terem feito "do próprio desespero uma razão para lutar". As cenas retrospetivas e as visões de acontecimentos que não ocorreram porque as personagens com a sua desistência os impediram, a introdução de personagens hipotéticas pautam a noite que conduzirá ao "dia seguinte" e ao fim de "tudo o que foi e tudo o que não chegou a ser... tudo o que nunca será". Deste modo, o "dia seguinte a que alude o título da (...( peça não é apenas o primeiro dia da morte dos seus protagonistas - mas o primeiro dia da vida que eles não souberam ou não lhes pareceu possível viver" (cf. posfácio a Teatro I, 1959, p. 225).
O dia seguinte
Um jovem casal ,com um filho prestes a nascer, e não aguentando as dificuldades financeiras em que vive, decide suicidar-se. Já mortos, são chamados a prestar contas dos seus dias em vida, o que os leva a reviver os seus momentos mais importantes, desde os mais optimistas e esperançados no futuro aos de desespero que os levam à própria morte e à negação da vida do filho. Assim são levados a reconhecer o erro que cometeram, mas já é tarde de mais. Mas fora do drama deste casal, outros homens não renunciam à vida e lutam para que "o dia seguinte" valha a pena ser vivido. . Apesar do drama das personagens, esta peça é marcada por uma ideia de esperança na humanidade e na marcha imparável da vida que, apesar das dificuldades que muitas vezes se impõem ao individuo, traz sempre um " dia seguinte", uma nova luz que renasce todas as manhãs. «Vale pelo menos como documento de uma época batida por todos os desesperos e rica de todas as promessas.» ( L.F: Rebello, pósfácio de Teatro I) . |
Drama em um acto, estreia-se no Théâtre de la Huchete, a 12 de Janeiro de 1953 (tradução francesa de Claude-Henri Frèches e encenação de Jean Marcellot)
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A sua estreia em Portugal estava prevista para a 19 de Abril de 1952, no Teatro D. Maria II, mas foi cancelada por proibição imposta pela censura.
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«A verdade é que "o Dia Seguinte" não podia agradar à ditadura fascista; era um protesto e era, simultaneamente, um grito de esperança, uma afirmação de confiança no futuro, isto numa época de desespero, na época em que o imperialismo arrastava o sabre atómico e o fascismo odiava tudo quanto lhe cheirasse a certeza, à vitória de um dia seguinte - dia que não era seu... »
Mário Castrim in Diário de Lisboa, data desconhecida
O levantamento desta proibição apenas se deu cerca de 10 anos mais tarde, estreando-se por isso a 15 de Fevereiro de 1963 no Teatro Nacional D. Maria II com a encenação de Pedro Lemos. Em 2 de Maio é também representada no Teatro Moderno de Lisboa, dirigida por Paulo Renato. Numa encenação de Correia Alves, foi transmitido pela RTP em 23 de Fevereiro de 1976.
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Desta peça resultam várias traduções estrangeiras. Para além da já referida tradução francesa, Le Lendemain, publicada na Revue Théâtrale em 1952, e da tradução de Luís Saraiva, Le jour Suivant estreada no Festival de Teatro Universitário de Moncton , Canadá , em Fevereiro de 1967, é de destacar a tradução espanhola de Eduardo Sánchez, estreada em Valência pelo Teatro de Câmara " El Paraiso ", a 12 de Abril de 1953, e publicada na revista "Teatro" de Madrid (nº 14), em 1955 ; e também a versão de Carlos-José, estreada em Madrid pelo Teatro de Câmara «TOAR», a 12 de Maio de 1956, e mais tarde transmitida pela TV espanhola.Handen von Morgen é a tradução flamenga de Marcel de Baecker, levada à cena pelo "Tonelsstudio 50 ", de Gand, em 20 de Janeiro de 1960 e reposta em cena pelo grupo de teatro experimental "Yver doet Leeren", também de Gand, em 20 de Março de 1970. Arrigo Repetto é responsável pela tradução italiana Il Giorno Dopo , publicada na revista " Il Dramma" em Dezembro de 1968, representada em 1970 no Teatro Valle, de Roma , em várias outras cidades italianas , e trasmitida pela TV da Suiça Italiana em 29 de Agosto de 1974. Przebudzenie, é o nome dado à tradução polaca da Danuta Zmij-Zielinska e Witold Wojciechomski, publicada na revista "Dialog", de Varsóvia, em Outubro de 1974. A tradução para alemão, Das Erwachen, por Peter Ball, foi tansmitida pela Rádio da Republica Democrática Alemã em 1976, havendo também outra versão nesta lingua de J. F. Branco, editada numa antologia de Teatro Português Contemporâneo pela Henschelverlag ( RDA ) no ano de 1978.
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Esta peça foi ainda traduzida para hebraico, por Alex Hadary, japonês, pela Prof.ª Nonoyama, inglês, por Bob Vincent e húngaro, por Miklos Hubay, o que permitiu a sua representação em países tão diversos como a Bélgica, Israel, Jugoslávia, Áustria e com destaque para o Brasil onde tem sido levada ao palco por vários grupos entre os quais o Teatro do Estudante do Panamá, dirigido por Armando Maranhão, em Julho de 1972.
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