Tempo em Setúbal

sábado, 24 de setembro de 2011

A Noite É Muito Escura - Alberto Caeiro


    • Substituindo ele por ela,, embora me importe pois gostasse que a luz continue acesa e aquela mulher tão (ir)real a existirnuma presnça/presente (VN)

      A Noite É Muito Escura

      É noite. 
      A noite é muito escura. Numa casa a uma grande 
      distância
      Brilha a luz duma janela.
      Vejo-a, e sinto-me humano dos pés à cabeça.
      É curioso que toda a vida do indivíduo que ali mora, 
      e que não sei quem é,
      Atrai-me só por essa luz vista de longe.
      Sem dúvida que a vida dele é real e ele tem cara, gestos, família e profissão.

      Mas agora só me importa a luz da janela dele.
      Apesar de a luz estar ali por ele a ter acendido,
      A luz é a realidade imediata para mim.
      Eu nunca passo para além da realidade imediata.
      Para além da realidade imediata não há nada.
      Se eu, de onde estou, só veio aquela luz,
      Em relação à distância onde estou há só aquela luz.
      O homem e a família dele são reais do lado de lá da janela.
      Eu estou do lado de cá, a uma grande distância.
      A luz apagou-se.
      Que me importa que o homem continue a existir?

      Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
      Heterónimo de Fernando Pessoa

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Ilusionismo Quadrilátero

ILUSIONISMO
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* Victor Nogueira .
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Ele há um tempo p’ra tudo na vida
Cantando hora, minuto, segundo;
Por isso sempre existe uma saída
Enquanto nós estivermos neste mundo.
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Há um tempo para não fenecer
Há mar, sol, luar e aves com astros
Há uma hora p'ra amar ou morrer
E tempo para não se ficar de rastos.
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P'ra isso e' preciso sabedoria
Em busca dum bom momento, oportuno,
Com ar, bom vinho, pão e cantoria,
Sem se confundir a nuvem com Juno.
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1991.08.11 - SETUBAL