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Quarta-feira, Setembro 20, 2006
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EUGÉNIO DE ANDRADE - Três poemas
SERÃO PALAVRAS SÓ
Diremos prado bosque
primavera,
e tudo o que dissermos
é só para dizermos
que fomos jovens.
Diremos mãe amor
um barco
e só diremos
que nada há
para levar ao coração.
Diremos terra ou mar
ou madressilva,
mas sem música no sangue
serão palavras só,
e só palavras, o que diremos.
(Eugénio de Andrade)
Lisboa ...
Alguém diz com lentidão:
"Lisboa, sabes ..."
Eu sei. É uma rapariga
descalça e leve,
um vento súbito e claro
nos cabelos,
algumas rugas finas
a espreitar-lhe os olhos,
a solidão aberta
nos lábios e nos dedos,
descendo degraus
e degraus
e degraus até ao rio.
Eu sei. E tu sabias?
(Eugénio de Andrade)
34. Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos como animais envelhecidos;
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor
vamos caindo ao chão apodrecidos.
(Eugénio de Andrade)
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