Tempo em Setúbal

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Terra Fria - Ferreira de Castro

Tuesday, February 01, 2011


de passagem - Ferreira de castro, TERRA FRIA (1934)

[do «Pórtico»]
Às vezes, parece-nos surpreender, nessa demorada metamorfose, algo da personalidade remota de todos nós, como se antiquíssima reminiscência faiscasse, de súbito, em sombrio recanto do nosso espírito. Dir-se-á que encontramos, nesses homens, farrapos da nossa vida de outrora, farrapos que foram abandonados ao longo da intérmina jornada, de geração para geração, de século para século, porque todos nós, um dia, teríamos sido assim. E surge, então, como que um sentimento de pretérita fraternidade, que se projecta no presente, abrindo-se em compreensão e amor.
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12.ª edição, Lisboa, Guimarães & C.ª, 1980.


Tuesday, October 05, 2010


de passagem - TERRA FRIA (1934)

É especialmente, nas gentes que vivem entre cadeias de montanhas que vamos encontrar, de novo, o homem metido em si próprio, o homem que reduziu a vida à árdua conquista do pão quotidiano e o enigma do infinito a uma simples crença, que colocou ao canto da alma como um bordão, para dele se servir nos momentos de vicissitude ou quando a morte lhe bate à porta. Tradicionalista, página viva de antropologia, a sua atitude ante o mundo de hoje dir-se-á igual à dos seus maiores perante o mundo de ontem e de todos os dias que já se perderam no cinerário do tempo. Mas não é assim. Agora e logo, neste raciocínio, naquela fala, no desenrolar das ambições e dos intentos, descobre-se a força da evolução que o vai penetrando, hoje um pouco, amanhã mais, num trabalho lento de pua furando granito.
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Ferreira de Castro, Terra Fria, 12.ª edição, Lisboa, Guimarães & C.ª, 1980.

Tuesday, April 20, 2010


de passagem - TERRA FRIA (1934)

[do «Pórtico»]
Nos pequenos povos, nas minúsculas repúblicas, nas regiões onde existem ainda princípios feudalistas ou aonde não chegou ainda, totalmente, o poder da civilização, o fenómeno apresenta, em certos sectores, características mui diferentes da psicologia dos insulares, qualquer que seja a sua nacionalidade ou latitude. Mas não deixa de oferecer o mesmo interesse a quem se preocupe com o ritmo evolutivo do espírito humano.
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Ferreira de Castro, Terra Fria, 12.ª edição, Lisboa, Guimarães & C.ª, 1980.

Wednesday, November 04, 2009


de passagem - TERRA FRIA (1934)

[do «Pórtico»]
Atrai-nos, porém, o confronto entre aqueles a quem as ilhas tornam inquietos até a neurastenia, aos grandes desesperos íntimos, e os que vivem apáticos, há muitos séculos, nos fundões dos continentes, que herdam a resignação, como se fora uma tara, e parecem não atentar, sequer, no limite do seu mundo terreno. Para isso e sem dar por isso, criaram um mundo psíquico particular, que nem sempre se revela ao primeiro contacto, mas que persiste bem, singular e nítido, para quem o analise com aguçadas pupilas.

Ferreira de Castro, Terra Fria, 12.ª edição, Lisboa, Guimarães & C.ª, 1980.

Tuesday, September 01, 2009


de passagem - TERRA FRIA (1934)

[do «Pórtico»]

A nostalgia deve ter nascido numa ilha e só numa pequena ilha se compreende, integralmente, o subtil significado da distância. Essa sufocação que dá a terra sem continuidade, como se o aro líquido que a estrangula se viesse fechar também em volta da nossa garganta, desperta constantes rebeldias e constantes impotências, acorda mil sentimentos ignorados, remexe, tortura, cava fundo na alma até o momento de esta se submeter por falta de mais energias.
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Ferreira de Castro, Terra Fria, 12.ª edição, Lisboa, Guimarães & C.ª, 1980.

 
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Thursday, June 04, 2009


de passagem - TERRA FRIA (1934)

[do «Pórtico»]
As pequenas ilhas, sobretudo, fascinam-me, porque permitem observar melhor o homem entregue a si próprio fechado sobre si mesmo e, simultaneamente, disperso no infinito, entre mar e céu -- inconsciente até do labor psíquico por ele realizado perante o eterno limite.
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Ferreira de Castro, Terra Fria, 12.ª edição, Lisboa, Guimarães & C.ª, 1980.


Saturday, February 21, 2009


de passagem - do «Pórtico» de TERRA FRIA (1934)

Nem eu sei quando nasceu no meu espírito este amor pelos povos minúsculos, pelas repúblicas em miniatura, por todos os que vivem isolados no planeta.

Ferreira de Castro, Terra Fria, 12.ª edição, Lisboa, Guimarães & C.ª Editores, 1980.



Monday, October 06, 2008


de passagem - TERRA FRIA (1934)

O sol, já quase horizontal, com seus raios a morrerem no gume das montanhas, recortava-lhe a figura, sobre a pileca. Nem alto, nem baixo, mas tão forte que o doutor Cardoso, cacique em Montalegre, vira-se em dificuldades para o livrar do serviço militar, as pernas, se se arqueassem mais, tocariam calcanhar com calcanhar sob o ventre do cavalo.
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Vestiam os seus trinta e quatro anos feitos e vividos sempre ali, entre a agressividade dos elementos, um casaco e coletes velhos, enodoados, a camisa sem gravata. O rosto mostrava faces crestadas, lábios grossos, e os olhos pestanudos quase se ocultavam sob o boné de pala, que descia até meia-testa. Nos ombros, luzia manta cromática, das que se fabricavam em Barroso, e de um lado e outro do bucéfalo dançavam, ao sabor da marcha, as peles compradas nesse dia. Tinham as extremidades endurecidas e do centro, ainda viscoso, exalavam cheiro nauseante.

Terra Fria, 12.ª edição, Lisboa, Guimarães & C.ª, 1980, pp. 21-22.

Saturday, September 29, 2007


De passagem - TERRA FRIA (1934), Incipit


Sobre a montanha, subindo, devagar, a trilha pedregosa, Leonardo esmoía íntimas irritações. Não podia ser! Os galegos estragavam tudo, quer pagando quantos direitos os guardas fiscais lhes exigiam quer andando na calada da noite, a fazer contrabando de peles. Ainda se aparecessem muitas de texugo e de tourão, em que os ganhos pingavam mais, sempre se poderia ir vivendo. Mas não. O gardunho tornara-se bicho raro e também não se matava todos os dias um texugo. E que se matasse! Já se sabia que os galegos pagavam mais -- e pele esticada e seca ficava guardadinha para eles. Se nem as de raposa escapavam! Levavam tudo! Desdenhadas só as de cabrito e de vitela, tão baratuchas que um homem fartava-se de carregar com elas para poder ganhar uns tristes vinténs...
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Terra Fria, 12.ª edição, Guimarães Editores, Lisboa, 1980, p. 21.



Tuesday, February 01, 2011


de passagem - Ferreira de castro, TERRA FRIA (1934)

[do «Pórtico»]
Às vezes, parece-nos surpreender, nessa demorada metamorfose, algo da personalidade remota de todos nós, como se antiquíssima reminiscência faiscasse, de súbito, em sombrio recanto do nosso espírito. Dir-se-á que encontramos, nesses homens, farrapos da nossa vida de outrora, farrapos que foram abandonados ao longo da intérmina jornada, de geração para geração, de século para século, porque todos nós, um dia, teríamos sido assim. E surge, então, como que um sentimento de pretérita fraternidade, que se projecta no presente, abrindo-se em compreensão e amor.

12.ª edição, Lisboa, Guimarães & C.ª, 1980.

Tuesday, October 05, 2010


de passagem - TERRA FRIA (1934)

É especialmente, nas gentes que vivem entre cadeias de montanhas que vamos encontrar, de novo, o homem metido em si próprio, o homem que reduziu a vida à árdua conquista do pão quotidiano e o enigma do infinito a uma simples crença, que colocou ao canto da alma como um bordão, para dele se servir nos momentos de vicissitude ou quando a morte lhe bate à porta. Tradicionalista, página viva de antropologia, a sua atitude ante o mundo de hoje dir-se-á igual à dos seus maiores perante o mundo de ontem e de todos os dias que já se perderam no cinerário do tempo. Mas não é assim. Agora e logo, neste raciocínio, naquela fala, no desenrolar das ambições e dos intentos, descobre-se a força da evolução que o vai penetrando, hoje um pouco, amanhã mais, num trabalho lento de pua furando granito.
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Ferreira de Castro, Terra Fria, 12.ª edição, Lisboa, Guimarães & C.ª, 1980.

Tuesday, April 20, 2010


de passagem - TERRA FRIA (1934)

[do «Pórtico»]
Nos pequenos povos, nas minúsculas repúblicas, nas regiões onde existem ainda princípios feudalistas ou aonde não chegou ainda, totalmente, o poder da civilização, o fenómeno apresenta, em certos sectores, características mui diferentes da psicologia dos insulares, qualquer que seja a sua nacionalidade ou latitude. Mas não deixa de oferecer o mesmo interesse a quem se preocupe com o ritmo evolutivo do espírito humano.
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Ferreira de Castro, Terra Fria, 12.ª edição, Lisboa, Guimarães & C.ª, 1980.
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Wednesday, November 04, 2009


de passagem - TERRA FRIA (1934)

[do «Pórtico»]
Atrai-nos, porém, o confronto entre aqueles a quem as ilhas tornam inquietos até a neurastenia, aos grandes desesperos íntimos, e os que vivem apáticos, há muitos séculos, nos fundões dos continentes, que herdam a resignação, como se fora uma tara, e parecem não atentar, sequer, no limite do seu mundo terreno. Para isso e sem dar por isso, criaram um mundo psíquico particular, que nem sempre se revela ao primeiro contacto, mas que persiste bem, singular e nítido, para quem o analise com aguçadas pupilas.

Ferreira de Castro, Terra Fria, 12.ª edição, Lisboa, Guimarães & C.ª, 1980.

Tuesday, September 01, 2009


de passagem - TERRA FRIA (1934)

[do «Pórtico»]

A nostalgia deve ter nascido numa ilha e só numa pequena ilha se compreende, integralmente, o subtil significado da distância. Essa sufocação que dá a terra sem continuidade, como se o aro líquido que a estrangula se viesse fechar também em volta da nossa garganta, desperta constantes rebeldias e constantes impotências, acorda mil sentimentos ignorados, remexe, tortura, cava fundo na alma até o momento de esta se submeter por falta de mais energias.
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Ferreira de Castro, Terra Fria, 12.ª edição, Lisboa, Guimarães & C.ª, 1980.

Thursday, June 04, 2009


de passagem - TERRA FRIA (1934)

[do «Pórtico»]
As pequenas ilhas, sobretudo, fascinam-me, porque permitem observar melhor o homem entregue a si próprio fechado sobre si mesmo e, simultaneamente, disperso no infinito, entre mar e céu -- inconsciente até do labor psíquico por ele realizado perante o eterno limite.
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Ferreira de Castro, Terra Fria, 12.ª edição, Lisboa, Guimarães & C.ª, 1980.

Saturday, February 21, 2009


de passagem - do «Pórtico» de TERRA FRIA (1934)

Nem eu sei quando nasceu no meu espírito este amor pelos povos minúsculos, pelas repúblicas em miniatura, por todos os que vivem isolados no planeta.

Ferreira de Castro, Terra Fria, 12.ª edição, Lisboa, Guimarães & C.ª Editores, 1980.

Thursday, November 27, 2008


castrianas #10 - João Pedro de Andrade

Os probemas económico-sociais não foram, está bem de ver, introduzidos na literatura pelos neo-realistas. Eles atravessam a obra de Raul Brandão (que seria considerado idealista pelos neo-realistas, se o tivessem lido), estão no Aquilino Ribeiro de Terras do Demo e A Batalha Sem Fim, mau grado o sentido pitoresco e o culto dos valores verbais, e, finalmente, no Ferreira de Castro de Emigrantes, A Selva e Terra Fria, para só falar em algumas das suas obras anteriores ao advento do neo-realismo. No entanto, pela sua atitude deliberada de intervenção, só este último havia de ser considerado percursor da nova tendência.

Ambições e Limites do Neo-Realismo Português [1955], edição de Joana Marques de Almeida, Lisboa, Acontecimento, 2002, p. 31.

Wednesday, October 08, 2008


TERRA FRIA por Bernardo Marques

ilustração de Bernardo Marques para Terra Fria
edição comemorativa dos 50 Anos de Vida Literária, 1966
Lisboa, Guimarães Editores, 1966

Monday, October 06, 2008


de passagem - TERRA FRIA (1934)

O sol, já quase horizontal, com seus raios a morrerem no gume das montanhas, recortava-lhe a figura, sobre a pileca. Nem alto, nem baixo, mas tão forte que o doutor Cardoso, cacique em Montalegre, vira-se em dificuldades para o livrar do serviço militar, as pernas, se se arqueassem mais, tocariam calcanhar com calcanhar sob o ventre do cavalo.
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Vestiam os seus trinta e quatro anos feitos e vividos sempre ali, entre a agressividade dos elementos, um casaco e coletes velhos, enodoados, a camisa sem gravata. O rosto mostrava faces crestadas, lábios grossos, e os olhos pestanudos quase se ocultavam sob o boné de pala, que descia até meia-testa. Nos ombros, luzia manta cromática, das que se fabricavam em Barroso, e de um lado e outro do bucéfalo dançavam, ao sabor da marcha, as peles compradas nesse dia. Tinham as extremidades endurecidas e do centro, ainda viscoso, exalavam cheiro nauseante.

Terra Fria, 12.ª edição, Lisboa, Guimarães & C.ª, 1980, pp. 21-22.

Saturday, September 29, 2007


De passagem - TERRA FRIA (1934), Incipit


Sobre a montanha, subindo, devagar, a trilha pedregosa, Leonardo esmoía íntimas irritações. Não podia ser! Os galegos estragavam tudo, quer pagando quantos direitos os guardas fiscais lhes exigiam quer andando na calada da noite, a fazer contrabando de peles. Ainda se aparecessem muitas de texugo e de tourão, em que os ganhos pingavam mais, sempre se poderia ir vivendo. Mas não. O gardunho tornara-se bicho raro e também não se matava todos os dias um texugo. E que se matasse! Já se sabia que os galegos pagavam mais -- e pele esticada e seca ficava guardadinha para eles. Se nem as de raposa escapavam! Levavam tudo! Desdenhadas só as de cabrito e de vitela, tão baratuchas que um homem fartava-se de carregar com elas para poder ganhar uns tristes vinténs...
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Terra Fria, 12.ª edição, Guimarães Editores, Lisboa, 1980, p. 21.

Saturday, September 30, 2006


Terre Froide

Grasset, Paris, 2003
(tradução de Louise Delapierre, 1947)

Tuesday, September 26, 2006


De passagem #4 - Do «Pórtico» de TERRA FRIA (1934)


A nostalgia deve ter nascido numa ilha e só numa pequena ilha se compreende, integralmente, o subtil significado da distância. Essa sufocação que dá a terra sem continuidade, como se o aro líquido que a estrangula se viesse fechar também em volta da nossa garganta, desperta constantes rebeldias e constantes impotências, acorda mil sentimentos ignorados, remexe, tortura, cava fundo na alma até o momento de esta se submeter por falta de mais energias.
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Atrai-nos, porém, o confronto entre aqueles a quem as ilhas tornam inquietos até a neurastenia, aos grandes desesperos íntimos, e os que vivem apáticos, há muitos séculos, nos fundões dos continentes, que herdam a resignação, como se fora uma tara, e parecem não atentar, sequer, no limite do seu mundo terreno. [...]
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É especialmente, nas gentes que vivem entre cadeias de montanhas que vamos encontrar, de novo, o homem metido em si próprio, o homem que reduziu a vida à árdua conquista do pão quotidiano e o enigma do infinito a uma simples crença, que colocou ao canto da alma como um bordão, para dele se servir nos momentos de vicissitude ou quando a morte lhe bate à porta. Tradicionalista, página viva da antropologia, a sua atitude ante o mundo de hoje dir-se-á igual à dos seus maiores perante o mundo de ontem e de todos os dias que já se perderam no cinerário do tempo. Mas não é assim. Agora e logo, neste raciocínio, naquela fala, no desenrolar das ambições e dos intentos, descobre-se a força da evolução que o vai penetrando, hoje um pouco, amanhã mais, num trabalho lento de pua furando granito.
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Terra Fria, 12.a edição, Lisboa, Guimarães & C.ª, 1980


Monday, September 25, 2006


Uma capa de Jorge Barradas


Editorial, «Século», Lisboa, 1934
 
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Começa assim:

Sobre a montada, subindo, devagar, a trilha pedregosa, Leonardo esmoía íntimas irritações. Não podia ser! Os galegos estragavam tudo, quer pagando quantos direitos os guardas fiscais lhes exigiam, quer andando, na calada da noite, a fazer contrabando de peles. Ainda se aparecessem muitas de texugo e de tourão, em que os ganhos pingavam mais, sempre se poderia ir vivendo. Mas não. O gardunho tornara-se bicho raro e também não se matava todos os dias um texugo. E que se matasse! Já se sabia que os galegos pagavam mais – e pele esticada e seca ficava guardadinha para eles. Se nem as de raposa escapavam! Levavam tudo! Desdenhadas, só as de cabrito e de vitela, tão baratuchas que um homem fartava-se de carregar com elas para poder ganhar uns tristes vinténs...
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O casebre de Leonardo e Ermelinda era em Padornelos, junto a Montalegre. Era também nessa aldeia a casa de Santiago, a primeira casa de emigrante a surgir por ali. 
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Ferreira de Castro consegue fazer-nos sentir que a terra ali é mesmo fria e húmida, sem conforto, que se vive pobremente, longe da civilização e perto da natureza e dos animais – sobretudo junto dos animais. Ainda se podem observar aldeias como esta na região, em que as vacas e os bois se passeiam pelas ruas e as plantam de bosta. Uma chega de bois era ali um raro divertimento a que acudia todo o povo da aldeia e das aldeias vizinhas.
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As Serras do Larouco e do Barroso esmagam-nos com a sua imponência e o homem reduz-se à sua dimensão mais pequena. No entanto, a ambição faz parte da natureza humana, e eventos exteriores podem despertá-la. É por isso que a malha de Terra Fria extravasa a povoação de Padornelos. 
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Na Cumeada do Leiranco, em direcção a Boticas, crê Leonardo que se esconde um tesouro, conforme descrito no Livro de São Cipriano, debaixo de uma pedra em forma de cruz, que fará parte de um dos conjuntos megalíticos existentes na região. Uma vez que são muito numerosos, e grande parte deles está ainda por assinalar, não é fácil identificar o lugar exacto em que Ferreira de Castro se terá inspirado. 
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Já a Ponte da Misarela, de origem medieval e rodeada por lendas, é bastante conhecida. Fica em Sidrós, onde os rios Cávado e Rabagão se unem. É aqui que as mulheres vêem quando não conseguem levar uma gravidez até ao fim. Se na sua visita à região conhecer algum Gervásio ou alguma Senhorinha, já sabe, são afilhados da ponte.
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Para passar para Espanha, e de regresso de Espanha, Leonardo não utilizava a fronteira legal. Em vez disso, percorria as serranias, passando a linha da fronteira junto a Sendim ou a Padroso. Baltar é uma povoação junto à fronteira, que Ferreira de Castro faz questão de comparar com Padornelos, servindo-se dela como um contraponto civilizacional. Em Baltar as pessoas não vivem com os animais, as pessoas são alegres e as mulheres são atraentes. Em Baltar, terá Leonardo a sua recompensa pelas dificuldades sofridas em Padornelos.
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Visitar a região em pleno Inverno poderá ser menos agradável do que na Primavera, mas torna possível sentir como é fria esta terra. Hoje já há acolhedoras casas de turismo rural, inclusivamente na própria povoação de Padornelos. Pegue no livro ao serão e sente-se junto à lareira. Na manhã seguinte percorra a povoação de livro debaixo do braço. Não se esqueça de procurar a Casa do Capitão, parece que foi onde Ferreira de Castro escreveu Terra Fria. E a seguir, a pé ou de qualquer outro transporte, vagueie pelas serras e repare na erva tenra das lameiras, e nas vacas barrosãs a pastar. Ao almoço poderá verificar o que a erva tenra das lameiras faz à carninha das vacas...
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Margarida Branco
©Ler por aí...
 http://www.lerporai.com/livro.php?livro=livro200702
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Ferreira de Castro

Nome: José Maria Ferreira de Castro
Nascimento: 24-5-1898, Oliveira de Azeméis
Morte: 1974, Lisboa

Escritor português, grande precursor do Neo-Realismo em Portugal, nasceu em Oliveira de Azeméis em 1898 e faleceu em 1974. (...)
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Com Terra Fria e A Lã e a Neve, o autor procede a uma nova metodologia de criação romanesca, baseada na observação in loco do meio e problemas sociais que o romance focaliza, num esboço de história natural, onde tenta transmitir um mundo rural miserável, à margem da civilização, protagonizado por gente simples e despecuniada. As dificuldades levantadas pelo regime salazarista à livre expressão do pensamento obrigam, posteriormente, o autor a abandonar o ciclo romanesco que se propusera para se dedicar às impressões de viagem, dedicando-se, entre 1959 e 1963, à publicação de As Maravilhas Artísticas do Mundo ou a Prodigiosa Aventura do Homem Através da Arte. Deste modo, para Álvaro Salema, as obras de Ferreira de Castro inscrevem-se em três grandes categorias: um primeiro ciclo de romances inspirado na "experiência pessoal" e na "observação experimentada", a que correspondem os romances Emigrantes, A Selva, Eternidade, Terra Fria e A Lã e a Neve;   (...)
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Bibliografia: Mas..., s/l, 1921; O Êxito Fácil, s/l, 1923; Sangue Negro, Lisboa, 1923; A Metamorfose: Novela Contemporânea, s/l, 1924; Lendas de Lirismo e de Amor, Lisboa, 1925; A Epopeia do Trabalho, Lisboa, 1926; A Peregrina do Mundo Novo, Lisboa, 1926; O Voo nas Trevas: novelas, Porto, 1927; A Casa dos Móveis Dourados, Lisboa, 1927; Emigrantes, Lisboa, 1928; A Selva, Rio de Janeiro, 1930; Eternidade, Lisboa, 1933; Terra Fria, Lisboa, 1934; Eternidade, ed. corrigida, s/l, 1935; Pequenos Mundos e Velhas Civilizações, Lisboa, 1937; A Tempestade, Lisboa, 1940; A Volta ao Mundo, Lisboa, 1942; A Curva da Estrada, Lisboa, 1950; As Maravilhas Artísticas do Mundo ou a Prodigiosa Aventura do Homem Através da Arte, Lisboa, 1959-1963; A Lã e a Neve, Rio de Janeiro, 1954; O Instinto Supremo, Lisboa, 1968; Os Fragmentos, Lisboa, 1974; Correspondência: 1922-1969, Lisboa, 1994

Como referenciar este artigo:
Ferreira de Castro. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-02-11].
Disponível na www: .

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Ilusionismo Quadrilátero

ILUSIONISMO
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* Victor Nogueira .
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Ele há um tempo p’ra tudo na vida
Cantando hora, minuto, segundo;
Por isso sempre existe uma saída
Enquanto nós estivermos neste mundo.
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Há um tempo para não fenecer
Há mar, sol, luar e aves com astros
Há uma hora p'ra amar ou morrer
E tempo para não se ficar de rastos.
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P'ra isso e' preciso sabedoria
Em busca dum bom momento, oportuno,
Com ar, bom vinho, pão e cantoria,
Sem se confundir a nuvem com Juno.
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1991.08.11 - SETUBAL