Tempo em Setúbal

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Fogo na noite escura - Fernando Namora



Fogo na Noite Escura foi o primeiro grande romance de Fernando Namora e conserva uma atualidade histórica flagrante, e uma dimensão existencial muito mais profunda do que aquela que se lhe poderia supor no momento em que surge.

Editado por Thesaurus, 1ª edição, 1973, 480 páginas
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http://www.thesaurus.com.br/livro/1360/fogo-na-noite-escura/

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Já a acção de Fogo Na Noite Escura, de Fernando Namora, publicado em 1943, decorre em pleno ambiente universitário da Coimbra do tempo, integrando personagens estudantes de Medicina, como Júlio e Mariana, de Direito, e Engenharia, como Zé Maria e Abílio; e outras como Luís Manuel, Dina, Eduarda, portadoras cada uma delas das marcas neo-realistas da sua proveniência sociocultural, mas, quando alunos da Universidade, vivendo, no tempo e espaço da narração, num hiato entre classes, que decorre da condição de estudantes que lhes é comum, e que comporta um nivelamento persistentemente denunciado como falso ou artificial ao longo da narrativa. Estava‑se em 1943, em plena II Grande Guerra, e o romance sobre o ambiente universitário que se escrevia em Portugal, narrado ainda da perspectiva do estudante, não era significativamente diferente das obras da mesma índole que se escreviam em Inglaterra e nos Estados Unidos.
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O panorama viria a modificar‑se radicalmente no pós‑guerra de 39‑45: principalmente a partir do dealbar da década de 50, o romance académico muda de natureza e assume, em Inglaterra e nos Estados Unidos, as proporções e as características que vão contribuir para a sua definição como subgénero. As obras, cujos autores são professores universitários, passam a ser narradas do ponto de vista do Professor, e a veicular um leque mais alargado, e crítico, de perspectivação social. Foi esta mudança de natureza que, curiosamente, o contexto português não acompanhou.
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Maria Filipa dos Reis
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http://www.fcsh.unl.pt/invest/edtl/verbetes/R/romance_academico.htm
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Fernando Namora


BIBLIOGRAFIA

Fernando Gonçalves Namora nasceu em Condeixa-a-Nova, no distrito de Coimbra, a 15/04/1919. Os pais eram descendentes de camponeses do concelho de Ansião, no distrito de Leiria. Depois de concluída a instrução primária, iniciou os estudos secundários no Colégio Camões, em Coimbra, tendo em seguida transitado para o Liceu Camões, em Lisboa, onde foi colega de Jorge de Sena. De novo em Coimbra, no Liceu José Falcão, dirige o jornal académico Alvorada e escreve a sua primeira obra, uma colectânea de novelas, Almas sem Rumo (1935), nunca publicada. Em 1937 chega a anunciar a publicação da novela Pecado Venial, o que também nunca veio a acontecer. 
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A sua iniciação literária fez-se sob o signo presencista, mas rapidamente foi atraído pela estética neo-realista. Fez parte do grupo do "Novo Cancioneiro" e foi um livro seu (Terra) que iniciou a colecção, em 1941. 
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Continuou os estudos na Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Medicina. O seu interesse pela escrita acentuou-se durante os anos da mocidade e são dessa época as primeiras obras publicadas, nomeadamente o romance de estreia (As Sete Partidas do Mundo), galardoado com o Prémio Almeida Garrett, que marca a sua adesão à corrente neo-realista.
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Concluído o curso, exerceu medicina em ambientes diversos, sobretudo na Beira Baixa e Alentejo, além da terra natal, Condeixa, e essa experiência clínica e humana permitiu-lhe recolher múltiplos elementos que aparecem transfigurados na sua obra literária.
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Segundo A. J. Saraiva e O. Lopes, Fogo na Noite Escura é o único romance neo-realista sobre a juventude universitária, enquanto Casa da Malta retrata a vida dos ganhões alentejanos e Retalhos da Vida de um Médico traduzem literariamente a sua experiência de médico rural.
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Recebeu o Prémio José Lins do Rego, pelo romance Domingo à Tarde. Foi-lhe atribuído também o Prémio Ricardo Malheiros.
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O seu romance evoluiu de uma espécie de inquérito social para construções romanescas mais livres, abertas a dimensões picarescas e poéticas. Em algumas das suas obras nota-se a influência da corrente existencialista (O Homem Disfarçado e Cidade Solitária) e em Domingo à Tarde percebe-se uma harmoniosa integração desse existencialismo com um neo-realismo amadurecido. Nos anos sessenta e setenta a ficção cede o lugar à crónica e impressões.
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Além da ficção e da poesia, cultivou uma espécie de crónica romanceada, em que se fundem a reportagem e o ensaio.
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Retalhos da Vida de um Médico, Domingo à Tarde e O Trigo e o Joio foram adaptados para o cinema e, o primeiro, também para a televisão.
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Era membro da Academia das Ciências de Lisboa.
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Morreu em Lisboa a 31/01/1989.
(Maio/98)
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http://anajorge.tripod.com/namora.htm
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Ilusionismo Quadrilátero

ILUSIONISMO
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* Victor Nogueira .
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Ele há um tempo p’ra tudo na vida
Cantando hora, minuto, segundo;
Por isso sempre existe uma saída
Enquanto nós estivermos neste mundo.
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Há um tempo para não fenecer
Há mar, sol, luar e aves com astros
Há uma hora p'ra amar ou morrer
E tempo para não se ficar de rastos.
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P'ra isso e' preciso sabedoria
Em busca dum bom momento, oportuno,
Com ar, bom vinho, pão e cantoria,
Sem se confundir a nuvem com Juno.
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1991.08.11 - SETUBAL