Tempo em Setúbal

domingo, 14 de novembro de 2010

Angústia para o Jantar - Luís Sttau Monteiro

Angústia para o Jantar

Autoria: Luís de Sttau Monteiro
Data de publicação: 1961
Local de publicação: Lisboa

Vários aspectos situam a segunda obra ficcional de Luís de Sttau Monteiro, apesar das nítidas ligações a uma leitura ideológica da realidade político-social em que o autor se situa, de acordo com António Mega Ferreira, num segundo momento da ficção neo-realista: por um lado "a grande novidade de Angústia para o Jantar, para lá de um inventário algo sumário [...] dos mecanismos e representações mentais de uma média e alta burguesia [...] reside na mesma impiedosa condenação de uma mediocridade desculpabilizante que procura nas "desigualdades à partida" o alimento da sua própria impotência", ao mesmo tempo que para essa novidade contribui a deslocação da localização social do narrador situado agora "no seio da classe dominante" (FERREIRA, António Mega - "Um Homem e a Sua Obra", introdução a Angústia para o Jantar, Círculo de Leitores, s/l, 1986, pp. XVI-XVIII). Com Angústia para o Jantar, Luís de Sttau Monteiro abre, assim, "depois de Eça de Queirós, depois de Joaquim Paço d'Arcos, um novo processo contra os meios mundanos da sociedade portuguesa. Tal como os seus precursores, ele é, digamos, um "filho pródigo", que está à vontade nos mesmos ambientes que impiedosamente denuncia. Tal como eles, ele é essencialmente um realista, um crítico de costumes, relegando para segundo plano os fundamentos espirituais e psicológicos do Homem. Diferentemente nos processos literários, Sttau Monteiro utiliza o estilo reportagem, com um mínimo de descrição ou de análise. Neste aspecto, é discípulo da escola norte-americana, sobretudo da corrente cujos representantes são Hemingway, Saroyan, Dorothy Parker: a arte literária centraliza-se no diálogo" (QUADROS, António, cit. in Introdução a Angústia para o Jantar, Círculo de Leitores, s/l, 1986, p. XXX). Por outro lado, ao nível da composição, o romance situa-se no contexto do nouveau roman, da experimentação no domínio do romance, obtida aqui por uma constante alternância e contraposição entre o discurso directo e o monólogo interior.

A novela começa com o habitual jantar mensal, entre dois amigos, Gonçalo, oriundo de uma família rica e António, filho de um oficial da marinha, que estabelecem um diálogo a propósito da condição familiar de cada um. Este diálogo, que permite perceber as desigualdades sociais entre os dois amigos, é extremamente irónico e contundente, acabando com uma altercação entre ambos.
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Assentando na narração de acontecimentos banais e dos vícios que enformam a vida social lisboeta, o narrador faz desfilar um conjunto de personagens que se vão cruzando entre si, devido a situações pouco lícitas.
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Adaptada ao teatro, esta obra obteve grande sucesso de palco, denunciando "sem dó nem piedade" uma série de preconceitos e ilusões que davam forma à sociedade dominante da época.

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Como referenciar este artigo:
Angústia para o Jantar. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-11-13].
Disponível na www: .
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2004/01/14


Angústia para o Jantar

Para mim, o mais complicado na escrita é o dar títulos a textos, contos ou a quaisquer outros documentos em geral. Descobri já que o modo como escrevo - de rajada, sem reflexão ou revisão de espécie alguma - não se coaduna com o feliz achamento de um bom título com as características que lhe são exigidas: ser apelativo, contundente, simples e perene.

Quando penso em bons títulos, há sempre dois que surgem logo à cabeça. Curiosamente são ambos de 1961, e ambos do mesmo autor, Luís de Sttau Monteiro: o do romance "Angústia para o Jantar" e o "Felizmente há Luar".

Se o primeiro é sublime - uso-o amiúde para descrever aquela vaga sensação que se tem de que há algo que vai correr mal e que somos impotentes para travar seja lá o que for que já se pôs em marcha, contra a nossa vontade e querer - o segundo, também ele muito feliz, requer uma explicação histórica: aquando da repressão de uma hipotética revolta liberal de 1817, executada pelo "protector britânico" de Portugal, o Marechal de Beresford e pela sua amante, a Condessa de Juromenha, os suspeitos foram supliciados no Campo Santana.

No meio da turba, um juiz houve que se saiu com uma frase contundente, um título por excelência: a transcrição, ipsis verbis, da frase literalmente assassina proferida por Miguel Pereira Forjaz, quando confrontado com o facto de a tortura e as execuções serem tão demoradas que se iriam prolongar pela noite dentro - "felizmente há luar!"

Nesta peça de teatro, Sttau Monteiro fabrica, sobre a trama de 1817, uma alegoria ao combate pela liberdade contra a cegueira das razões de Estado, numa paródia ao regime da Velha Senhora que então se vivia. Por razões óbvias, "Felizmente há luar" esteve proibida até 1974 - foi pela primeira vez levada à cena apenas em 1978, no Teatro Nacional, numa encenação do próprio autor.


 
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http://alexandre-monteiro.blogspot.com/2004/01/angstia-para-o-jantar.html
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Ilusionismo Quadrilátero

ILUSIONISMO
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* Victor Nogueira .
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Ele há um tempo p’ra tudo na vida
Cantando hora, minuto, segundo;
Por isso sempre existe uma saída
Enquanto nós estivermos neste mundo.
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Há um tempo para não fenecer
Há mar, sol, luar e aves com astros
Há uma hora p'ra amar ou morrer
E tempo para não se ficar de rastos.
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P'ra isso e' preciso sabedoria
Em busca dum bom momento, oportuno,
Com ar, bom vinho, pão e cantoria,
Sem se confundir a nuvem com Juno.
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1991.08.11 - SETUBAL