Tempo em Setúbal

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Manhã Submersa - Virgílio Ferreira e Lauro António




Manhã Submersa
Autor: Ferreira, Vergílio
Editora: Bertrand
Utilizador: Paulo Neves da Silva, Oeiras
Apreciação Pessoal

Género: Romance
Idioma: Português
Entrada na Base de Dados em: 20070220
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Opinião:
«Manhã Submersa» é um romance um pouco triste e cruel que retrata a vida de um conjunto de seminaristas oriundos de famílias pobres ou remediadas que se encontram num beco sem saída, entre uma suposta perspectiva de vida boa mas cheia de limitações em contraste com uma suposta liberdade em más condições de vida. Seminarista à força, ou privilegiado eleito a partir de um capricho de pessoas ricas e austeras, António Borrralho sofre a obrigação de uma vocação que não sente, encurralado pela mãe que sonha com uma velhice mais confortável em virtude da prometedora carreira eclesiástica do filho, e uma tutora que o escraviza na religião mesmo em períodos de férias, benemérita que faz pagar bem alto o preço de ajudar uma família que vive na miséria.

Num mosteiro onde também a austeridade impera, por meio de regras e caprichos de padres que também têm as suas obsessões, aulas de latim apimentadas por lutas entre facções criadas pelos educadores, ambientes de isolamento mas simultaneamente de criação de um rebanho dócil de seminaristas a todo o preço, geram os mais variados tipos de angústias e sentimentos negativos, atenuados em parte por algumas amizades e também por rivalidades que distraem os rapazes do ambiente deprimente em que se encontram. As atitudes de revolta, algumas mais premeditadas, outras longamente alimentadas em silêncio e depois precipitadas, são uma constante do comportamento dos seminaristas ao longo dos vários anos que António Borralho aguenta a sua estada no seminário.

O estado emergente da adolescência, as tentações da carne a que tem que fugir a todo o custo, as provocações pérfidas e degradantes de várias pessoas entre os quais os seus antigos amigos e pessoas da família da sua tutora, indiciam um desprezo ao seu estado que o mina por fora como por dentro, que a pouco e pouco leva António a consolidar uma decisão de ruptura que o colocará de volta ao seu destino desgraçado mas liberto, preferindo a crueza da realidade á hipocrisia do meio homem sem vida. Entre as dúvidas dos amigos e as suas próprias, no descobrir da existência como homem e dos prazeres e armadilhas que a vida oferece, enleado numa teia de acontecimentos que não controla e onde se sente um joguete, a longa introspecção acaba por ser um jogo de hesitações onde só um acto repentino, irreflectido e irreversível, fruto do ódio, acaba por o colocar no caminho certo do seu destino.

Extracto:
(...) o peso da dor nada tem que ver com a qualidade da dor. A dor é o que se sente. Nada mais. Desisto definitivamente de me iludir com a minha força de adulto sobre o peso de uma amargura infantil. Exactamente porque toda a vida que tive sempre se me representa investida da importância que em cada momento teve. Como se eu jamais tivesse envelhecido. Exactamente porque só é fútil e ingénua a infância dos outros - quando se não é já criança.

(...) Estranho poder este da lembrança: tudo o que me ofendeu me ofende, tudo o que me sorriu sorri: mas, a um apelo de abandono, a um esquecimento «real», a bruma da distância levanta-se-me sobre tudo, acena-me à comoção que não é alegre nem triste mas apenas «comovente»... Dói-me o que sofri e «recordo», não o que sofri e «evoco».

(...) Eu vivia, de resto, agora, e cada vez mais, da minha imaginação. E foi por isso a partir de então que eu descobri a violência da realidade. Nada era como eu tinha fantasiado e não sabia porquê. Parecia-me que havia sempre outras coisas à minha volta que eu não supunha, e que essas coisas tinham sempre mais força do que eu julgava. Assim, a minha pessoa e tudo aquilo que eu escolhera para mim não tinham sobre o mais a importância que eu lhes dera. Chegado à realidade, muita coisa erguia a voz por sobre mim e me esquecia.

(...) Quando algum de nós se afastava para dentro de si próprio, logo a vigilância alarmada dos prefeitos o trazia de rastos cá para fora. Os superiores sabiam que, à pressão exterior, cada um de nós podia refugiar-se no mais fundo de si. Como sabiam também que a descoberta de nós próprios era a descoberta maravilhosa de uma força inesperada. Nenhuns sonhos se negavam ao apelo da nossa sorte, aí na nossa íntima liberdade. Por isso nos expulsavam de lá. Mas, uma vez postos na rua, havia ainda o receio de que as nossas liberdades comunicassem de uns para os outros e ficassem por isso ainda mais fortes. E assim nos obrigavam a integrar-nos numa solidariedade geométrica, ruidosa e exterior como de ladrilhos.
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Manhã Submersa - o filme

Vergílio Ferreira - Manhã Submersa - ORFEU SPAM

 

Cinema

Diário de Notícias 

 Homenagem a Lauro António e ao filme 'Manhã Submersa'

Hoje
Homenagem a Lauro António e ao filme 'Manhã Submersa'
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Os 50 anos de carreira do cineasta Lauro António e os 30 do filme Manhã Submersa vão ser celebrados a partir de hoje no Teatro da Trindade, em Lisboa.
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Até ao fim de Novembro estará patente naquele espaço uma exposição e haverá todas as terças-feiras sessões de cinema.
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As comemorações iniciam-se hoje, às 18.00, com a exibição de Vergílio Ferreira numa Manhã Submersa, o episódio zero de uma minissérie produzida para a RTP em 1978, e de Mãe Genoveva, filme da série da RTP Histórias de Mulheres, datada de 1983. Às 21.15 será inaugurada, no salão nobre do teatro, uma exposição sobre os 30 anos do filme Manhã Submersa e que fará uma retrospectiva da obra de Lauro António.
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A partir das 21.30, serão emitidos a curta-metragem Prefácio a Vergílio Ferreira , de 1975, e o filme Manhã Submersa, de 1980, marco da história do cinema português com Eunice Muñoz e Virgílio Castelo e realizado por Lauro António, agora com 68 anos, personalidade que deu origem a Lauro Dérmio, uma das mais populares personagens de Herman José
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O Vestido Cor de Fogo, Paisagem sem Barcos, A Bela e a Rosa, Casino Oceano, Vamos ao Nimas, Bonecos de Estremoz e a série Paródia são alguns dos filmes a exibir neste ciclo, que inclui também a montagem de cenas de filmes de António Silva, intitulada Ó Evaristo, Tens cá disto?, e os documentários assinados por Lauro António sobre José Viana, Maria Sobral Mendonça e Humberto Delgado. Por definir estão ainda as datas em que se realizarão os colóquios, um sobre a rodagem de Manhã Submersa e outro sobre a relação entre o cinema e a literatura.
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Segunda-feira, Maio 14, 2007


MANHÃ SUBMERSA NO QUARTETO

manhã submersa

Li Manhã Submersa há uns poucos anos, mas o meu Vergílio Ferreira já era (e continua a ser) outro, aquele onde aparece a magnífica Sofia. Foi portanto com uma memória difusa que entrei no Quarteto para ver a adaptação que Lauro António fez para cinema em 1980, e que se encontra em reposição.
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Filmado na Serra da Estrela, “Manhã Submersa” segue os trilhos de António, um menino de uma família muito pobre que é encaminhado por uma senhora devota e abastada da região para um seminário. No seminário, mostrado com um espaço de extrema disciplina e autoritarismo asfixiante, António toma consciência de si enquanto homem, constatando a evidência da sua falta de vocação e ganhando finalmente coragem para o acto brutal que o conduz à libertação.
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O filme consegue captar bem o ambiente de prisão do seminário (embora nunca caia na crítica sensacionalista à Igreja), pontuando-o com visões evasivas de António, que recorda a beleza imensa das paisagens e das gentes da sua terra. E apesar de estarmos perante um protagonista de pouca idade, nem por isso deixamos de o ver – também – como alguém que se está a tornar pleno, conhecendo, percebendo, superando-se.
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Com uma banda sonora a cargo de trechos de Verdi, que confere ao filme um tom trágico, “Manhã Submersa” é um filme muito interessante sobre a infância, o crescimento e a forma como somos condicionados e como ousamos procurar uma forma de romper com as limitações que nos são impostas.
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(e foi também uma forma de recordar a Serra, na boa companhia da Rita e do Miguel)
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escrito por H. pelas 12:00 AM
Comentário escrito por H. no Blogue "
As Imagens Primeiro."
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LauroAntonio50 | 16 de Setembro de 2010
Trailer do filme "Manhã Submersa" de Lauro António realizado para a celebração dos seus 30 anos.
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LauroAntonio50 | 21 de Setembro de 2010
Teatro da Trindade apresenta Manhã Submersa Trailer 2010
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Baiqueeuespero | 28 de Março de 2009
Cena do filme "Manhã Submersa" de Lauro António, filmada na estação do Larinho.
www.forumcarvicais.com

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newsblade | 1 de Abril de 2007
Filme baseado na obra de Vergílio Ferreira
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Sem comentários:

Ilusionismo Quadrilátero

ILUSIONISMO
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* Victor Nogueira .
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Ele há um tempo p’ra tudo na vida
Cantando hora, minuto, segundo;
Por isso sempre existe uma saída
Enquanto nós estivermos neste mundo.
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Há um tempo para não fenecer
Há mar, sol, luar e aves com astros
Há uma hora p'ra amar ou morrer
E tempo para não se ficar de rastos.
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P'ra isso e' preciso sabedoria
Em busca dum bom momento, oportuno,
Com ar, bom vinho, pão e cantoria,
Sem se confundir a nuvem com Juno.
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1991.08.11 - SETUBAL