Tempo em Setúbal

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Fernando Namora e Domingo à Tarde

Fernando Namora

whiteFernando Namora
Fernando Gonçalves Namora - (1919 - 1989) foi um escritor português, natural de Condeixa-a-Nova. 
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.Na Universidade de Coimbra, licenciou-se em Medicina, que exerceu na sua terra natal e nas regiões da Beira Baixa e Alentejo.
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O seu volume de estreia foi Relevos (1938), livro de poesia onde se notam as influências do grupo da Presença.
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No mesmo ano, publicou o romance As Sete Partidas do Mundo, o qual foi galardoado com o Prémio Almeida Garrett, onde se começa a esboçar o seu encontro com o neo-realismo, ainda mais patente três anos depois com a poesia de Terra no Novo Cancioneiro.
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A sua obra evoluiu no sentido do amadurecimento estético do Neo-Realismo, o que o levou a um caminho mais pessoal. Não desdenhando a análise social, os seus textos foram cada vez mais marcados por aspectos de picaresco, observações naturalistas e algum existencialismo.
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Fernando Namora foi um escritor dotado de uma profunda capacidade de análise psicológica, a que se ligou uma linguagem de grande carga poética. Escreveu, para além de obras de poesia e romances, contos, memórias e impressões de viagem.
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Entre os títulos que publicou encontram-se os volumes de prosa Fogo na Noite Escura (1943),Casa da Malta (1945), As Minas de S. Francisco (1946), Retalhos da Vida de um Médico (1949 e 1963), A Noite e a Madrugada (1950), O Trigo e o Joio (1954), O Homem Disfarçado (1957),Cidade Solitária (1959), Domingo à Tarde (1961, Prémio José Lins do Rego, Os Clandestinos (1972) e Rio Triste (1982).
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Além dos já mencionados, publicou em poesia Mar de Sargaços (1940) e Marketing ( 1969). A sua produção poética conheceu uma antologia datada de 1959, intitulada As Frias Madrugadas.
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Escreveu ainda volumes de memórias, anotações de viagem e crítica, como Diálogo em Setembro (1966),  Um Sino na Montanha (1970), Os Adoradores do Sol (1972), Estamos no Vento (1974), A Nave de Pedra (1975), Cavalgada Cinzenta (1977) e Sentados na Relva (1986).
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O romance Domingo à Tarde foi adaptado ao cinema em 1966 por António de Macedo. O livro Retalhos da Vida de um Médico foi adaptado ao cinema por Jorge Brum do Canto (1962), além de ter sido produzida uma série televisiva por Artur Ramos e Jaime Silva (1979- 1980).
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Retirado de " http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Namora"
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http://www.uc.pt/antigos-estudantes/perfil/perfil_memoriais/fernando_namora
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15/05/2010


A OBRA LITERÁRIA DE FERNANDO NAMORA



por Pedro Luso de Carvalho


Fernando Namora nasceu em 15 de abril de 1919, em Condeixa, Portugal. Formou-se em Medicina na Universidade de Coimbra. Em 1937, fez sua estréia nas letras com o livro de poemas Relevos e o romance Sete partidas do mundo. Em 1940 e 1941 publicou mais dois livros de poesia, Mar de Sargaço e Terra. Em 1959 sua obra poética foi reunida no livro As frias madrugadas. Em 1969 lançou Marketing, outro livro de poesia.


Fogo na Noite Escura (1943) foi o primeiro grande romance de Fernando Namora. A seguir publicou: Casa de Malta, novela, 1945; Minas de São Francisco, romance 1946 (Prêmio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa); Retalhos da vida de um médico (1ª série, em 1949 – Prêmio Vértice; as narrativas da 2ª série foram editadas em 1963); A noite e A madrugada, romance, 1950; Deuses e Demônios da Medicina, biografias romanceadas (1ª versão em 1952, 2ª versão em 1963, dois volumes); O trigo e o joio, romance, 1954; O homem disfarçado, romance, 1957; Domingo à tarde, romance, 1961 (Prêmio José Lins do Rego); Esboço Histórico do Neo-Realismo, ensaio, 1961; Aquilino Ribeiro apresentação e coordenação, 1963; Diálogo em setembro, crônica romanceada, 1968; Um sino na montanha, Cadernos de um escritor, 1971, e Os Clandestinos, romance, 1972.


Fernando Namora tem seus livros traduzidos para o castellano, catalão, francês, inglês, alemão, italiano, romeno, checo, russo, esperanto, sueco, holandês, búlgaro etc. Fogo na noite escura é o oitavo livro de Fernando Namora editado no Brasil.


Domingo à tarde foi o primeiro livro que li de Fernando Namora; após a leitura desse romance saí em busca de outras obras do autor, e descobri Retalhos da vida de um médico, A noite e a madrugada e Fogo na noite escura.


Em Domingo à tarde, Fernando Namora conta em uma história densa; o tratamento que dá às personagens deixa transparecer uma sensibilidade incomum; as abordagens que faz sobre a miséria humana, miséria essa que o cerca no seu dia-a-dia no hospital, no qual exerce sua profissão de médico. O escritor sabe lidar com os sentimentos mais íntimos das personagens que povoam esse ambiente, impregnado de dor, de angústia, de esperança e de desesperança. Demonstra ter um profundo conhecimento da alma humana, e faz com que o leitor se torne cúmplice das suas personagens; desperta no leitor um forte sentimento de compaixão e solidariedade pelos seus infortúnios, sentimentos esses que se mesclam com um traço de culpa, como se quem o lê também seja responsável por todo o caos social que passa a permear a sua narrativa. Melhor que falar, é mostrar um trecho do romance Domingo à tarde:


“A minha insociabilidade seria, pois, uma estratégia. De qualquer dos modos, fui conquistando regalias de exceção, que me permitiam escolher os doentes, espantando do hospital as tais baronesas histéricas e desocupadas, vindas ali se exercitar com as intimidades da consulta, os neuróticos, os maricas e toda essa legião de exploradores dos serviços de assistência médica gratuita, compadres ou compadres dos nossos amigos, para quem o nosso trabalho era, ao fim e ao cabo, uma mercê que, por intermédio deles, da sua sacrificada generosidade, nos fosse concedida.


Ficavam-me os pobres, submissos e aterrados, os que pressentiam o desfecho como um castigo misterioso, telúrico, de que não se podia fugir, e me procuravam quase sempre apenas para ouvir uma palavra de conforto que em toda a parte lhes era negada, uma mentira mais, e pareciam rogar desculpas do seu próprio sofrimento. Esperavam de mim, cúmplice da doença, da morte ou de suas ilusões, não as drogas, em que já nem acreditavam, mas uma espécie ambígua de solidariedade que os fizesse sentir apoiados até por quem estivesse ao lado do executor no minuto final; ou mesmo a solidariedade do carrasco e da vítima quando o mundo se fecha sobre os dois. Mentiras era o que me pediam, sempre mentiras, logros mendigados de mão estendida.


Sendo eu o tal sujeito bruto, de palavras aceradas, parecia estranho que eles me escolhessem entre os demais coveiros, embora nunca os tivesse seduzido com a minha compaixão. Vinha, no entanto, eles e as famílias, estabelecendo uma pertinaz e surda ronda a todos os meus passos. Eram cavalos viciados no chicote. Cavalos que mantinham de pé, por tenacidade e não por orgulho, a sua agonia. Talvez a minha dureza lhes soubesse a verdade. Talvez a preferissem às palavras embuçadas, aos afagos corrompidos, que deixam o travo duma fraude maior ainda”.


Aí está, pois, um pouco do talento desse escritor português. Depois de ler seu texto, como não concordar com o que diz Fernando Mendonça: 'Ler um texto de Fernando Namora é volvermos os olhos para imutável perfeição clássica da nossa língua. A sua elasticidade, o seu equilíbrio e simultaneamente as sua largas pinceladas impressionistas fazem desse texto uma lição permanente da língua portuguesa'.


Em 1988, Namora comemora o 50º ano de intensa atividade literária. Nesse mesmo ano, o escritor recebe a Grã Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique. No ano seguinte, 1989, morre em Lisboa, no dia 31 de janeiro, Fernando Namora, um dos mais importantes escritores modernos de Portugal e da língua portuguesa.



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Alguns aspectos da interação Médico-Paciente em Domingo à Tarde, 

de Fernando Namora

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Descripción: Este trabalho tem o objetivo de refletir sobre a interação médico-paciente, a partir da análise do texto ficcional Domingo à tarde, romance de Fernando Namora, escrito entre outubro de 1959 e outubro de 1960, e ambientado em um hospital público de Lisboa. A finalidade deste estudo é verificar como vai se constituindo, esteticamente, o caráter multivocal dos enunciados, por meio da comunicação linguageira do narrador consigo mesmo, com seus colegas, e com uma paciente específica, em situações que ocorrem em vários espaços e em diferentes tempos, no contexto narrativo daquele romance. A pesquisa se justifica, porque a obra examinada, ao apresentar uma vívida reconstituição literária da complexidade da interação médicopaciente, torna acessíveis alguns importantes aspectos dessa interação a que não se pode ter acesso direto exceto na condição de paciente e/ou médico - dada a natureza sigilosa do contrato entre os participantes, que exclui a presença de um pesquisador, seja diretamente ou na forma de, por exemplo, questionários, entrevistas, etc. A metodologia consistiu na leitura do livro e para a análise mantivemos a sub-divisão em capítulos, utilizada por Namora, de modo a se estabelecer a relação texto/contexto, sob a perspectiva de relações dialógicas: a memória do narrador, o comentário que retoma o seu passado, a autocrítica, o metadiscurso, de um lado, e a própria trama, a história, de outro. Como categoria de análise, foi usado o conceito teórico de discurso relatado, segundo Bakhtin e seu Círculo: pela voz do narrador, outras vozes são recuperadas por meio de discurso direto, discurso indireto e discurso indireto livre. O comentário final é que o texto literário - corpus desta pesquisa, pode ser entendido como representação estética de dessimetrias sociais na interação médico-paciente (no contexto sócio-cultural e no momento histórico de Domingo à tarde). Além disso, na linguagem literária deste romance está representada a transformação de postura do profissional que se humaniza - e sofre por sua incapacidade de salvar e/ou curar, doentes incuráveis -, ao valorizar o outro (seja o outro o próprio médico-narrador, que se reconhece e se identifica no e pelo olhar do outro; sejam os outros os médicos, a paciente, a colega, ou os doentes)
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http://biblioteca.universia.net/html_bura/ficha/params/id/23953443.html
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Domingo à Tarde

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Domingo à Tarde
 Portugal
1966 •  pb •  90 min • M/12
Produção
Realização António de Macedo
Argumento António de Macedo
Elenco original Isabel de Castro
Ruy de Carvalho
Isabel Ruth
Alexandre Pessoa
Constança Navarro
Júlio Cleto
Miguel Franco
Género drama, romance
Idioma original português
Lançamento 13 de Abril de 1966

IMDb: (inglês) (português)
Projeto CinemaPortal Cinema
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Domingo à Tarde (1966) é um filme português de António de Macedo, a sua primeira longa metragem de ficção e a quarta do movimento do Novo Cinema.
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Macedo, em contra-corrente, recusaria no entanto certos ditames estéticos dos vanguardistas franceses, negando o proclamado valor de Godard.
(...)
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Ilusionismo Quadrilátero

ILUSIONISMO
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* Victor Nogueira .
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Ele há um tempo p’ra tudo na vida
Cantando hora, minuto, segundo;
Por isso sempre existe uma saída
Enquanto nós estivermos neste mundo.
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Há um tempo para não fenecer
Há mar, sol, luar e aves com astros
Há uma hora p'ra amar ou morrer
E tempo para não se ficar de rastos.
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P'ra isso e' preciso sabedoria
Em busca dum bom momento, oportuno,
Com ar, bom vinho, pão e cantoria,
Sem se confundir a nuvem com Juno.
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1991.08.11 - SETUBAL